⌖ Prólogo ⌖

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Eda Yildiz

Estou sentada em frente a uma montanha de papéis e pelo fato da minha barriga roncar tanto, sei que já passou muito da hora do almoço. Desde que entrei para a polícia, há cinco anos atrás, nunca me deparei com um caso tão difícil.

- Isso simplesmente não faz sentido! - observo novamente as imagens tentando identificar o que posso ter deixado passar despercebido. Há um corpo com um tiro certeiro na cabeça e sem nenhum sinal de luta corporal, digitais do assassino ou motivação para o crime. A maleta preta junto ao peito do jovem estava repleta de milhares de liras turcas - O atirador sabia o que estava fazendo, com a falta de cápsulas de bala podemos concluir que efetuou um único disparo. O que me intriga é quem faria isso e deixaria para trás tanto dinheiro?

Admito que acabei subestimando esse caso assim que o vi, meu comandante citou uma morte no Porto e eu já esperava a mesma coisa de sempre: "Um traficante de drogas morto por cometer um único erro", esse era o preço alto a se pagar na dura lei de conduta da máfia. Os bandidos possuem um padrão, sempre gravar as torturas e deixar o corpo já sem vida pendurado em algum dos depósitos de Kusadasi, costuma ser um aviso bárbaro, mas que funciona por algum tempo, já que a polícia fica meses sem receber novas ocorrências.

Só que desta vez foi diferente, o cadáver era de um simples agente penitenciário de Mardin, sem nenhuma ligação com a máfia turca, a bala mortal bem no meio da testa me leva a crer que foi uma queima de arquivo, mas por qual motivo?

Estava fácil demais lidar com esses mafiosos sempre deixando algum fio solto. Eu e minha equipe iniciávamos a investigação para logo descobrir quem estava por trás dos crimes e de quebra aproveitávamos para apreender armas, drogas e equipamentos tecnológicos contrabandeados da América. Eles sempre foram assim, descuidados.

Sinto que as coisas estão mudando por aqui. Esse crime foi cometido por um atirador de elite, muito bem treinado e capaz de atingir o alvo a inúmeros metros de distância. Esses idiotas rudes não teriam alguém assim nem que se esforçassem muito, os turcos eram broncos demais para tamanha eficiência.

A minha preocupação é termos que enfrentar um inimigo forte e perigoso sem estarmos preparados. Os boatos de que os turcos estariam estreitando uma antiga aliança com mafiosos italianos tem se espalhado como rastilho de pólvora pelo departamento.

O último traficante que interroguei me ameaçou alegando que a famiglia Bolat iria me caçar e me calar para sempre. Bom, se eu me importasse toda a vez que fosse ameaçada, não sairia de casa nunca mais.

- Eu ainda vou pegar o figlio di puttana que comanda essa merda aqui!

Suspiro, não gosto da sensação de estar acuada.

- Posso saber quem Eda Yildiz ataca com tanto rancor?!

Emin entra na minha sala, como sempre, sem bater e se joga na poltrona mais próxima trazendo uma sacola nas mãos.

- A que devo a honra da sua visita Emin?! - me aproximo fazendo um cafuné nos seus cabelos e o deixando irritado pela bagunça dos fios - Sei que o comandante não está sendo misericordioso com os novos recrutas.

- Porra Eda, as vezes parece que ele quer nos fazer desistir, não sei qual foi a última vez que dormi por mais de quatro horas - ele diz suspirando e posso ver manchas escuras em volta dos seus olhos sempre tão brincalhões - Você bem que poderia conversar com o chefe para pegarem mais leve com a gente, já que é a preferida por aqui.

- Sabe que se eu pudesse faria isso por você - suspiro, esse pivete é a única pessoa que amo e o mais próximo que tenho de uma família - Mas Emin você também sabe que sou elogiada não só por fazer bem o meu trabalho, mas principalmente por não me envolver em conflitos desnecessários. Já estive no seu lugar e sei o quanto esse treinamento ajuda a preparação para campo. Você estará muito mais forte quanto tudo acabar!

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