⌖ Capítulo 3 ⌖

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Serkan Bolat

Como se toda a minha existência não tivesse sido ruim o suficiente, esses últimos meses conseguiram ser os mais fodidos que já vivi.

Meu bambino, meu garoto tão alegre e brincalhão agora é apenas uma lembrança de que não sou digno de ter nenhuma parte boa na minha vida. Eu também me importo com minha irmã, claro, mas nunca estivemos juntos por mais do que duas horas no passado e muito menos no presente. Com a minha mãe é da mesma forma, Melek e Aydan, como qualquer outra mulher dentro da máfia vivem uma vida completamente diferente da que nós homens vivemos. Alp estava sempre ao meu lado e era responsável por meus poucos momentos de alegria, ele se foi e em mim uma sombra se apossou do seu lugar.

Gritar, quebrar tudo o que via na frente, socar meus inimigos e traidores até a morte, nada disso poderia trazer ele de volta. Nesses quase dois meses sem meu irmão eu dei espaço para a minha parte mais cruel comandar minhas atitudes, não existe clemência, ninguém que cruzar meu caminho poderá ter uma segunda chance. Nunca foi usado com tanta ênfase o nome "spietato" ao se referir a Serkan Bolat.

O meu desejo por vingança é intenso, se eu não tivesse levado aquele tiro e passado tanto tempo desacordado nada disso teria acontecido. O desgraçado do Alptekin não teria assumido a liderança, meu consigliere não estaria implorando tantas vezes pela própria morte e meu irmão ainda estaria vivo.

Se aquela maldita mulher não tivesse aparecido na minha vida eu ainda seria um monstro, mas teria ao menos a minha pequena fração de humanidade, que vinha daquele garoto destemido que queria mudar o mundo, mas no fim não conseguiu nem mudar o próprio destino. Eu deveria tê-lo protegido, mas falhei!

Carlo era meu soldado mais sádico, ele sabia perfeitamente como entrar na mente de uma pessoa e fazê-la enlouquecer, então foi o escolhido para trazer Eda Yildiz para mim. Ela não estava mais em seu cargo de investigadora, sendo assim os meus homens infiltrados na polícia de nada ajudavam para o meu plano.

Apesar de todo ódio que nutria por essa mulher, nada poderia me fazer parar de pensar na sua beleza ímpar e naqueles incríveis olhos castanhos que me atormentavam em cada sonho. Eu já estava vigiando-a por muitos meses, desde a morte do agente penitenciário naquele Porto, mas nem isso me preparou para a visão de Eda ao vivo, sem os moletons e tênis corriqueiros a morena era uma obra a ser admirada.

Volto minha mente para o presente, estou agora no escritório da minha empresa, afinal não apenas de drogas e armas vive a famiglia. A cadeia de hotéis cinco estrelas "Grand Onore" presente em toda a Itália me rende alguns bons bilhões de euros por ano.

Sempre considerei importante ter um negócio em paralelo com a máfia, então quando ser Serkan Bolat o Capo da famiglia se tornava um fardo grande demais, o que acontece com frequência, eu corria para minha empresa e me dedicava para que ela crescesse cada vez mais. Aprendi desde pequeno que nem todo poder e autoridade que tivéssemos seriam suficientes para um Bolat.

Com o tempo as operações da famiglia começaram a me exigir maior atenção, então deixei meus hotéis nas mãos dos acionistas. Coloquei Selin Atakan, a filha de um importante senador, como diretora da empresa e dei o meu sangue para o papel de Capo da máfia.

Fazem quatro anos que compareço à sede da Grand Onore pelo máximo de três horas por dia para resolver assuntos importantes, e ninguém questiona quando fico semanas sem aparecer. As festas de caridade que ocorrem duas vezes por ano na empresa são celebradas no intuito de manter a imagem de sucesso dos Bolats, as atitudes filantrópicas ajudam a sermos vistos como uma família poderosa e generosa, mas essa última está longe de ser verdade.

STRANI AMORI Onde histórias criam vida. Descubra agora