Depois de reclamar por praticamente duas horas seguidas, Simone aceitou os fatos: Ficaria presa naquela Fazenda e só Deus sabia quando iria poder voltar para casa. Ligou para as filhas e para o marido, explicando o paradeiro e pedindo desculpas por não voltar para casa a tempo do jantar – algo deveras especial para a senadora.
Fora a chateação que sentia por estar longe de sua casa, sentia que não deveria estar ali, sozinha com Soraya. Já havia se permitido cometer um erro enorme quando deixou que Soraya a beijasse – e, não somente isso, quando gostou e retribuiu o beijo.
Se culpava por querer repetir. Se culpava por fraquejar. Se culpava por ter traído seu marido dedicado e, porque não, suas filhas também.
Sua família poderia ruir por causa de um descontrole causado por seu desejo mais profundo.
Quando pedira a Soraya a permissão para ficar ali aquela noite, sabia que estava assinando sua sentença de morte. Iria beijar Soraya de novo e seria questão de tempo e de auto-controle de sua parte...
Até onde iria a sua vontade de fazer o certo e até onde iria o delírio causado pela ex-aluna no meio de suas pernas?
Não queria descobrir.
Agora estava sentada de frente para a televisão enquanto, usando o próprio celular, lia os e-mails mais urgentes da sua caixa de entrada. Soraya, como toda mulher conservadora de direita, estava cumprindo seu papel de mulher e decidira preparar algo para jantar, já que, por conta das chuvas, havia liberado os empregados da Fazenda para voltarem à vila mais cedo.
A esquete no jornal sobre como maioria dos eleitores de Simone Tebet estavam tendendo a votar em Jair Bolsonaro a deixou preocupada. Precisaria agir diferente para que tudo saísse conforme planejado e ela alcançasse a presidência da república que tanto almejava, e sabia que Soraya seria peça fundamental no convencimento de muitos eleitores indecisos.
Precisaria convencer a loira a declarar apoio, nem que fosse apoio ao MDB em si e não a Lula e ao PT.
Respirou fundo e, apoiando as mãos nos joelhos para levantar, saiu do sofá em direção à cozinha. O cheiro da comida gostosa de sua ex-aluna invadiu suas narinas e sua boca encheu de água imaginando o sabor daquele alimento – Soraya possuía um talento ímpar na cozinha, enquanto Simone malmente conseguia fritar um ovo e fazer um arroz sem que ficasse todo grudado.
Soraya estava de costas para a porta da cozinha, com o pé esquerdo apoiado na perna direita – formando um 4 com as pernas -, o cabelo havia sido preso num coque desarrumado no topo de sua cabeça, permitindo que alguns fios soltos emoldurassem o seu rosto e sua nuca ficasse exposta.
- O que temos para hoje? – Perguntou Simone, sentando-se num banco alto de madeira estrategicamente colocado perto da ilha da cozinha.
- Nada demais. – Soraya respondeu, sem tirar os olhos da panela. – Estou terminando de fazer molho à bolonhesa e depois vou montar uma lasanha. Quer ajudar?
Simone sorriu.
- Você sabe que essa é a comida que você faz que eu mais gosto? E, em tempo, não, não quero ajudar. Tenho certeza que se eu chegar aí perto é capaz de dar tudo errado.
- Eu tinha uma vaga lembrança sobre a lasanha... Na verdade, eu fiquei em dúvida entre a Lasanha e o Brigadeiro. – Baixou o fogo e se dirigiu até a ex-professora. – Já, já termina. Bom, pelo menos o molho. Pensei em montar a Lasanha, colocar para assar e tomar banho enquanto assa.
- Combinado, senadora. Eu já avisei ao pessoal de casa e à minha assessoria. Falando nisso, você poderia me emprestar seu computador e seu escritório rapidinho depois do jantar? – Perguntou.
![](https://img.wattpad.com/cover/324684085-288-k336605.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Se Você Vier [SORAYA & SIMONE]
RomanceDesacreditada e cansada após o fim do primeiro turno das eleições presidenciais, Soraya Thronicke decidiu que seria uma boa ideia passar um tempo reclusa em sua fazenda. Apenas não contava que, buscando apoio político, sua ex-professora e concorrent...