inferno particular.

1.8K 171 261
                                    

Simone acordou com a claridade invadindo o quarto.

Lá fora, o sol brilhava timidamente e as gotas de chuva já não caíam mais: ela poderia ir para cada mais cedo do que imaginava. Levantou as cobertas que cobriam seu corpo e analisou sua nudez, prova da noite tórrida que teve com sua ex-aluna e amante, Soraya Thronicke.

Ex-concorrente também na corrida pela presidência da república.

Sua cabeça pesou, lembrando que havia fraquejado tantas vezes que perdeu as contas. Se transar com Soraya fosse crime, ela pegaria prisão perpétua e cumpriria a pena feliz, sabendo que morrer na prisão valia a pena depois de morrer de prazeres no corpo da ex-aluna. Piscou um pouco para acostumar com a claridade e se condenou por não ter fechado as cortinas antes de dormir.

"Onde está Soraya?" pensou.

Sabia que a loira costumava acordar mais cedo do que ela, sempre focada em manter uma vida saudável com atenção à rotina. Bom, não que Simone não seguisse rotina, mas Soraya era um caso a parte: tinha hora para tudo, até para ir ao banheiro, e na fazenda, mesmo seguindo um período sabático, não era diferente.

O relógio do celular de Simone apontou que passava das onze da manhã. Era o que acontecia quando ela destinava uma noite inteira a se perder nas curvas de Soraya e, nossa: que curvas. Seu interior se remexeu com a lembrança da tórrida noite de amor e ela decidiu balançar a cabeça, se repreendendo por lembrar daquilo com tanta vontade de repetir.

"É, a Simone do futuro vai precisar rezar ajoelhada no milho para pagar as penitências de ter se deixado levar por Soraya." Repetia essa frase em sua mente enquanto levantava para tomar um banho e tirar qualquer vestígio de sexo do seu corpo. Aproveitou o tempo no banheiro para mandar uma mensagem ao piloto do helicóptero, confirmando se o tempo estava propício para vôo.

Esfregou os cabelos com força, como se fosse possível tirar Soraya de si apenas naquele ato. Sabia que não podia. Sabia que Soraya corria por suas veias, quase como se a hemoglobina que tingia seu sangue de vermelho tivesse nome, sobrenome e a alcunha de onça. Tirar Soraya de si seria o mesmo que desligar todas as suas sinapses nervosas e torcer para que ela sentisse algo, sem se tornar um vegetal: impossível.

Colocou o mesmo vestido que havia usado para ir até lá, catou seus saltos no canto do quarto e suspirou ao dar uma última olhada na cena do crime. Estar sozinha com Soraya não era um crime, nunca seria, mas considerava o erro de trair seu marido, suas filhas, sua família, algo inaceitável. Precisaria se perdoar por aquilo, mas como se perdoar se não se sentia culpada? Como se sentir culpada por amar, por desejar outra pessoa?

Não. Não era culpada por isso.

Tinha plena consciência de que era culpada por ceder aos seus desejos mesmo tendo um compromisso selado com outra pessoa. Eduardo não merecia isso.

Desceu as escadas destinada a encontrar Soraya, mas, depois de rodar a sede inteira, desistiu. Deu de cara apenas com os empregados, que disseram que a senadora mais jovem havia saído mais cedo e não disse para onde iria. Pediu uma caneca de café e foi para a varanda esperar a chegada do helicóptero, já que o piloto confirmara que poderia buscá-la para voltar à cidade.

Aproveitou para ler os e-mails que chegaram na noite anterior e ela não havia lido. Conversou um pouco com sua assessoria sobre como poderia se engajar positivamente na campanha de Lula e, por fim, tirou um tempo para conversar com suas filhas e garantir que voltaria para casa a tempo do jantar.

Quando a caneca de café estava quase no fim, levantou os olhos ao ouvir o inconfundível som do trote do cavalo.

Em cima de um Mangalarga Marchador de pelagem Pampa, vinha Soraya. Usava calças jeans pretas, camisa pólo branca por dentro da calça, botas de couro até a altura dos joelhos e, na cabeça, um boné vermelho com o símbolo NY bordado em branco.

Se Você Vier [SORAYA & SIMONE]Onde histórias criam vida. Descubra agora