Se Você Vier [SORAYA & SIMONE]

me leva contigo, Dindi.

Assistir Soraya gozando sempre fora um espetáculo para Simone.

Segurou a mais nova com força, para que não se desfizesse em cima daquela sela de couro e, com cuidado, a guiou para o pequeno sofá recostado na parede do depósito.

Simone sentou com as costas viradas para o braço do sofá e encaixou Soraya entre suas pernas, aproveitando para segurar o corpo esguio e abraçá-la contra si. Queria poder abraçar a ex-aluna e nunca mais soltar, queria poder viver naquele mundinho perfeito que criaram só para elas anos atrás e de onde queriam nunca ter saído.

Agora, mais desperta, Soraya foi a primeira a quebrar o silêncio:

- Eu queria que você pudesse ficar. – Confidenciou.

E era verdade. Queria mais do que tudo que Simone aceitasse ficar ali escondida com ela, vivendo dias de leveza e noites de paixão, mas sabia que a vida real era muito mais complicada do que o mundo irreal e perfeito que ela havia criado em sua cabeça.

Algumas pessoas foram feitas para se amar, mas não para ficarem juntas.

E, embora não estivesse tudo bem, precisaria fazer com que ficasse.

- Eu também, So. – Respondeu com os lábios próximos ao ouvido da mais nova. – A vida real é um saco.

Elas riram, mas por dentro seus corações estavam partidos. Era sempre assim, algumas horas de felicidade até que a vida real as atingisse em cheio e fizesse com que a perfeição de seus momentos juntas virasse uma mera lembrança dolorosa.

Quando começaram a se envolver, perdida entre tantas juras de amor, ficou a promessa de respeitarem uma à outra acima de tudo, e isso dizia respeito também às suas carreiras e às suas famílias. Na época, Simone não sabia o que Ramez Tebet, seu pai, seria capaz de fazer se imaginasse que a sua única filha estava se envolvendo com uma mulher.

Pior, se envolvendo com uma aluna.

Já Soraya sempre fora dona de si e dona de suas vontades. Soraya amava Simone com cada batida de seu coração e, desde que entendeu que aquilo era amor, decidiu que passaria por cima de quem fosse para viver o que ela e Simone estavam destinadas a viver. Amava seus pais, amava sua família, mas amava mais ainda a professora de cabelos escuros e voz aveludada.

Quando as coisas começaram a ficar insustentáveis e esconder o relacionamento não era mais uma opção, Soraya pediu para que a professora assumisse tudo. Se dispôs a trocar de faculdade, trocaria de cidade, de estado e de país se fosse necessário, mas não deixaria aquele amor entre elas ruir.

No dia seguinte, Simone saiu do país.

Voltou casada e grávida três anos depois.

[FLASHBACK – Campo Grande, 1999 – P.O.V Soraya Thronicke]

"Parabéns, Soraya." Pensei. "Primeiro dia de aula do semestre e você já está atrasada."

O relógio casio, modelo retrô, em meu pulso, marcava 7h12, o que me dava exatamente três minutos para achar uma vaga, estacionar o carro, passar na secretaria, descobrir a minha sala, encontrar a minha sala e, finalmente, assistir a aula.

Não é preciso ser nenhum gênio para saber que eu, obviamente, cheguei atrasada na sala. Na sala que estava lotada. Com uma professora alta, por volta dos seus um metro e setenta, parada me olhando como se eu fosse a última criminosa do mundo.

Nem era para tanto, não era como se fosse a aula mais importante do semestre. Era só a primeira aula.

A professora segurava um giz branco na mão e, no quadro, eu pude ler os dizeres "Dra. Simone Tebet, Ética 101. "