Capítulo 13

16 3 0
                                    

Sebastian:

Desperto.
É assim que eu me sinto agora e é maravilhoso e assustador ao mesmo tempo.
Eu deveria estar morto, mas acho que não estou ainda.
Mortos não recebem essa imensa sensação de paz presente em mim neste momento. Ou recebem?
Ouso abrir os olhos.
E a visão que eu tenho é de tirar o fôlego.
Eu sei exatamente onde eu estou.
Eu sonhei com esse lugar todos os dias enquanto estava no Céu.
O lugar para onde apenas os Anjos mais dedicados, que fossem corajosos e de bom coração e que estivessem dispostos a arriscar tudo - até a própria vida - para o prol maior, receberiam o privilégio de descansarem o restante dos dias aqui.
Eu nunca acreditei que eu pudesse ser um desses bravos heróis.
-Bem vindo ao Éden, Anjo. - Alguém anuncia a minha chegada.
Me viro, assustado e atordoado com a voz que ecoa.
Ela é doce, no entanto; calma. Não parece oferecer perigo algum.
-Os Anjos, e principalmente a Humanidade, agradecem os seus serviços.
Eu dou um giro, tentando encontrar quem fala comigo, mas não encontro ninguém.
É mais como uma presença.
-O que está acontecendo aqui? - Manifesto em palavras tudo o que o meu interior quer saber.
Uma risada leve ecoa, junto com uma brisa.
Leve e despreocupada.
-Você salvou o mundo hoje, Anjo. Se sacrificou por outros e essa é uma honra tão grande que te trouxe diretamente até aqui, ao belo Jardim.
-Não pode ser verdade…- sussurro, ainda perplexo.
-Não mentiríamos para você.
-Mas e o Céu? Ele estava desmoronando.
Mesmo agora, enquanto eu pergunto sobre algo tão grave, eu não sinto medo ou receio ou tristeza. Acho que você é incapaz de sentir tais sentimentos aqui.
- Foi como eu disse. Existem poucas coisas tão poderosas quanto o sacrifício voluntário, como você fez. E por isso, você extinguiu o mal de volta para onde ele não deveria ter saído. E o mundo foi salvo, as coisas ficaram calmas de novo. Tanto no Céu quanto na Terra. É claro, infelizmente houveram baixas, mas você conseguiu. Salvou o dia.
Terra.
-Eu preciso voltar pra lá. Pra Terra. Por favor. - Suplico.
É feita uma pausa.
-Que estranho. Você é o primeiro que faz um pedido como esse. - Há outra pausa, e eu consigo observar tudo ao meu redor: campos verdes com árvores, o som de alguma  corrente de água, passarinhos cantando, céu azul, uma pequena e fina garoa caindo.
Tudo exatamente da forma como eu vinha imaginando toda a minha vida. O paraíso.
-Você entende que aqui você teria vida eterna, suas asas com você e nunca precisaria se preocupar com nada? Nenhum sentimento ruim o acompanhará, nem culpa, receio, remorso ou vergonha. Não parece bom? Pensei que você tivesse passado a vida inteira almejando isso.
-E eu realmente passei. Até que eu fui jogado na Terra e percebi que estivera esperando toda a minha vida por aquele momento. Lá é onde eu me sinto em casa.
E é onde a minha alma gêmea está.
-Eu preciso voltar para onde eu pertenço.
-Você tem certeza disso? É a sua palavra final.
Olho para as minhas asas, minhas companheiras.
Aprecio as penas, a coloração, como ela é macia.
Obrigado por ter me feito voar.
Olho para a frente, dizendo:
-Sim, eu tenho certeza. Podem me mandar de volta, sem asas e sem poderes.
Está na hora de fincar os pés no chão.

                *                                                         *                                             *

Estava chovendo em Londres.
Chovia bastante lá, quase todos os dias, mas chovia especialmente hoje.
Chovia em todo o planeta, em diferentes quantidades.
Estava chovendo apenas o necessário, sem abundâncias.
Também trovejava, mas não de uma forma assustadora, mas de modo casual - um som ao longe  que adicionava ao som da chuva.
Era fim de tarde, e o céu estava nublado, porém cheio de luz.
O mundo havia sido salvo hoje.
E essa era uma das maneiras de agradecer.
Um homem em especial, naquela cidade grande, andava feliz e com convicção em meio a água e aos outros.
Ele estava se molhando rápido, as roupas se encharcando lentamente, o cabelo escorrendo no rosto.
Não muito diferente de quando tinha Caído.
Porém, agora era pra valer.
Sebastian sentia em suas veias a falta de poderes, a falta de conexão com o Céu.
E era por isso que ele sorria.
Sebastian Vettel era um homem livre e apaixonado, que tinha sido um herói e estava caminhando para casa.
Para Lewis.
Ele se sentou, apoiando-se na porta do prédio onde ele e Lewis moraram juntos tão brevemente.
Ele observou aquilo, absorveu.
Respirou fundo.
Livre.
Ele se levantou, virando-se para abrir a porta.
Alguém a abre pelo outro lado.
Hamilton está ali, do outro lado.
À sua frente.
Os olhos se encontram.
Os olhos azuis de Sebastian e os castanhos de Lewis, ambos apaixonados, se reconhecem.
Eles sorriem um para o outro.
Casa.

ÉdenOnde histórias criam vida. Descubra agora