CAPÍTULO UM: STAHRRÜ, parte 3.

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As lágrimas escorriam pelo rosto de Anx conforme a dor no topo da cabeça se intensificava. Elas haviam jogado uma pedra nele. Não era a primeira vez, e definitivamente não seria a última. E daí se ele era um fellin e fellins se curavam mais rápido do que a maioria das outras raças? Isso não significava nada. Isso não o faria parar de chorar.

Stahrrü, coet? Arinna gritou, a pequena kiry, como eram chamados os filhotes de fellins, dançava ao redor dele enquanto os outros filhotes continuavam à rir e gritar a palavra que agora se tornava uma tortura para ele. Stahrrü em Kehhi (a língua dos fellin), significava "Aquele não tocado pela estrela" .Normalmente era a palavra que utilizavam para se referir a qualquer um que não fosse um fellin, já que todos na raça nasciam com uma marca de deus em forma de constelações. Mas não Anx. Anx nunca foi tocado. Ele nunca despertaria o seu poder.

ARINNA! ─ O grito fez com que as crianças parassem e se encolhessem, abaixando as orelhas enquanto o kiry podia escutar os passos vindo para a sua direção, e, tão logo, tinha o corpo erguido para o colo de Parinna. A responsável pelas crianças do orfanato o aninhou em seus braços, apontando na direção da casa onde as tão raras órfãs da floresta do norte moravam, não dizendo mais nada enquanto o carregava para dentro. ─ Não se preocupe, laenno kiry. Quando sua Fhüria brilhar, as estrelas se arrependerão de não terem o acolhido antes.

Fh-fhüria? Ele perguntou confuso, jamais tendo escutado aquela palavras antes.

Fhüria. O nome que damos ao reino dos deuses, e como antigamente chamávamos a marca que eles nos dão. ─ Ela sussurrou gentil, mostrando para ele a mão onde a Marca de Deus de uma constelação tatuada com poucas estrelas.

Mas porquê chamávamos de Fhüria, se esse é o nome do reino dos deuses?

Ó, querido.Anx ergueu o rosto para encará-la, ainda segurando a mão. Os olhos dela começaram a brilhar num branco intenso, a realidade se distorcendo quando o brilho se intensificou e tudo se tornou branco durante a memória. ─ Um dia você vai entender que existe um deus dentro de nós.


ANX!

O círculo mágico ao redor do fellin havia de alguma forma criado um escudo de proteção. Ele segurava as mãos de Kalla cujo corpo agora flutuava como se lançado pelo vento da explosão, sentindo os dedos dela quase escaparem enquanto a rajada tentava sugá-la. Mas ele não a soltaria. Na verdade, ele parecia ser capaz de puxar o corpo que voava, trazendo-a aos seus braços e a apertando enquanto notava o desespero na expressão dela. Podia escutar os gritos da multidão enquanto o som de folhas queimando surgiu e estalos altos se intensificaram, indicando o incêndio imediato.

Algo havia dado errado.

Kalla se encolheu em seus braços, agarrando-o com força e o deixando perceber o quanto tremia enquanto o escudo aos poucos parecia se desfazer junto do brilho azulado da magia. Uma fumaça negra e densa havia subido pelas árvores, os impedindo de ver mais do que alguns metros à frente quando o terrível cheiro de carne queimada invadiu as narinas dos dois, criando uma ânsia de vômito terrível. Kalla murmurou algo inaudível, o aroma pútrido desaparecendo junto de todos os outros cheiros do mundo quando ela ergueu o rosto para ele, mostrando os olhos ainda assustados quando segurou o rosto do fellin e tentou controlar o fôlego desenfreado enquanto parecia limpá-lo da sujeira.

Seus olh...

Como você fez isso? Ele a interrompeu, e ela vacilou como se não entendesse a pergunta. Um círculo mágico capaz de proteger qualquer um de uma explosão tão grande certamente não era uma magia que ele acreditava que ela fosse capaz de fazer. Aquilo era magia arcana, certo? Como por Ordyn ela havia conjurado aquilo?

AS CRÔNICAS DA ANSIEDADE: A BALANÇA DOURADAOnde histórias criam vida. Descubra agora