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Mas fica tudo bem.

Depois que a gente se encontra, eu sei que fica tudo bem.

Sei que na marca dos 60 dias, o prazo era maior do que podia aguentar.

A única ficha que tinha caído era a de não ter mais teu corpo pra abraçar à noite.

Ficava acordada de manhãzinha lembrando daqueles dias, quando despertava com beijos e abraços que já tinham começado nos meus sonhos.

Toda dia um dia a menos, uma briga a mais.

Daí aos 50 dias foi difícil, confesso. Não dá pra tentar antecipar a sensação que só se vai sentir semanas pra frente. Mas a gente tenta. E falha. E tenta de novo. E desiste.

E continua apenas acordando, andando, comendo e dormindo durante os 40 dias que restam, porque as brigas não valem mais a pena e as discussões dão preguiça. Ainda sente falta dos dias bons e sabe que quando a felicidade destoa, brilha.

Os 30 chegam desabrochando igual as flores do jardim do prédio, que dão boas-vindas à primavera. O vento esquenta e o sol sorri. Eu sorrio também.

De repente 20, tudo agora faz sentido.

As tardes sonolentas e o jeito como as curvas se encaixam. Como os braços se procuram na madrugada, como as conversas fluem e como o beijo é bom.

Dias ruins podem fazer o estômago parecer um buraco negro, mas não sugam as lembranças tão fortes. E como são fortes. E como fazem falta... Como você faz falta.

Alcanço os 10 com lábios quebrados e unhas roídas. Ansiolíticos são fotos e áudios, que apaziguam momentaneamente.

São 9 e a contagem regressiva parece nunca ter sido tão verdadeira.

Chegam os 8 com os últimos preparos burocráticos, com o último suspiro agonizante.

Aos 7 vem a despedida do trabalho, que dá oi pra um caminho novo.

Aos 6, o limbro entre não estar nem aqui, nem aí.

Só mais 5 noites longas e agitadas.

São 4 dias e, nesse mesmo horário, o cheiro vai deixar de ser só uma parte do cérebro que pisca em saudade.

Conta até 3 e respira fundo, vai dar tudo certo.

Carregamos 2 malas de um cômodo ao outro, querendo a certeza que não vai ser essa a próxima dor de cabeça.

Último abraço, um beijo, e tchau.

Entra.

Senta.

Suspira.

Dorme.

Só mais 1 viagem.

Chega.

Olha.

Sorri.

E fica tudo bem.

Do Porto, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora