Grito silencioso

3 1 0
                                    

Sabe, às vezes eu grito.
Não aquele grito alto, estridente e que carrega consigo uma onda de fé, esperança e alívio
Não
Eu grito em silêncio
Um grito que só eu escuto, que só eu sinto
Eu grito em silêncio porque quem há de me escutar, se nao a quietude do momento?

E esse grito que não é audível, é sensível, quase tátil de tao denso, não acontece a mero capricho. Não é APENAS raiva, apenas irritação, apenas sofrimentos, dor ou punição. É cada um deles misturados copiosamente como uma tormenta no horizonte mais límpido e na maré mais indolente.

Ele vem devagar, vagaroso, se coleta ao poucos como um balde embaixo de um goteira e se alastra, doloroso, como uma vinha espinhosa pelo peito, acabando com seu ar, escurecendo sua visão, tensionando seus músculos, emudecendo seus sentidos e ardendo.

Por Deus, e como arde! Arde como se mil flechas de fogo se enterrasem eu seu peito e continuassem em chamas.

Arde porque não deveria acontecer, porque meu corpo se recusa a sentir, a deixar de oprimir. Arde porque nao sei como controlar essa onda que sobrecarrega minha mente, arde porque nao sei dosar! Dosar as emoções, as situações, dosar a vida em sua própria essência. Ah, como minha mãe sempre me dizia "tudo em excesso faz mal, minha filha", mas como hei de viver a vida se nao aceito tudo o que ela tem para me proporcionar? Se é um grito o preço a pagar, que minha dívida seja paga então.

Porém, nunca era só um grito.
Porque quando ele vinha, trazia consigo TANTA dor, TANTA raiva, TANTO sofrimento que custava muito mais que a dor no peito ao gritar em silêncio. Custava pedaços da minha alma.

Afinal, o que era um grito silencioso, senão a última súplica de um fragmento cruelmente arrancado mim mesma em um dos vários suplícios da vida? Pois um grito sem som nao passa de uma alma morimbunda soltando seu ultimo suspiro.

Doces vozes da minha cabeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora