Sinopse:
O cenário perfeito de Sylvie.
Inspirado na música Dreams - Gorgon City (feat. Jem Cooke).
***
Acordei de manhã ao seu lado, meus olhos mal podendo captar os fragmentos de luz que entravam pela janela. As frestas abertas que permitiam que toda a claridade iluminasse não só o quarto, como também minha alma.
Uma aureola de luz se formava no vão entre a cama e a porta, e nada mais parecia escuro para mim. Meu peito se preenchia de maneira tão substancial, significativa, que mal pude compreender de onde vinha tamanha sensação.
Mas ela estava lá no momento em que me virei.
Deitado sobre a cama, ao meu lado, me relembrando de cada pedaço, traço, momento da noite anterior, do trajeto de toda uma vida. Memórias de uma trágica história, assim como a própria luz que emanava de minha escuridão sem fim, não era nada se comparada a luz que ele emanava em meu peito.
Por poucos segundos, decidi que aquele espaço era meu, que aquela vida era minha, e que aquele amor me pertencia. Por tanto tempo, nada tive, agora, como era possível ter tanto?
Seus cabelos escuros caíam sobre uma parte de sua face e eu fiz questão de retirá-los apenas para vislumbrar a figura real que pairava na minha frente. Tão calmo, sincero e sereno, que seu semblante pleno, fazia-me sentir aquecida como o calor do verão.
Era inconfundível.
Um amor como aquele era inconfundível.
Tão suave, tão próximo, era diferente de qualquer coisa que eu já havia experienciado em qualquer momento da vida e toda sensação de fulgor me preencheu, tomando cada célula do meu corpo, tão inerente quanto a magia que corria por meus sistemas.
Eu, então, havia me apaixonado por um mágico.
Mas o que era magia se não o amor em sua extensa fantasia?
A fantasia de compartilhar a mesma aura era o que me fazia sentir única, incomparável em tanta magnitude...
Ele passava de qualquer sintoma de amor, era a totalidade da sensação de completude.
Então eu sorri, observando atentamente a única fragilidade que eu possuía. De tantos anos sóbrios, era a forma que seu rosto sorria, mesmo sonolento, um estupor que queimava fogos em todo meu coração. Então não havia sobriedade ou dor neste mundo que refizesse esse sentimento.
Senti levemente a sensação de perigo crescer, mas desta vez, não temi o risco que aquele sentimento faria comigo. Durante centenas de anos eu fui a minha própria fortaleza, mas me senti encorajada a enfrentar o que se dispusesse a colocar no caminho do que me fazia sentir absolutamente feliz.
De qualquer forma, ele era minha força e fraqueza.
Ele ainda estava adormecido, coberto pelas malhas de um tecido fino quando me levantei e abri uma parte das janelas pesadas. Observei o lado de fora como se aquele mundo fosse uma promessa perdida para mim há tanto tempo. Quantas vezes acreditei que não merecia meia parte do que eu estava vivendo?
Então, acreditei fielmente que parecia existir vida lá fora, como sempre houve antes de toda essa loucura, mas estávamos seguros lá dentro, onde era só nosso e, desta vez, não tínhamos lugar para ir. Ou poderíamos ir para qualquer lugar.
E eu me sentia tão bem que cheguei até mesmo a acreditar, novamente, que não era real. A vista pela janela continha uma grama tão verde e o sol era tão brando ampliando os horizontes que abrangia qualquer parte ínfima que restava de medo em mim.
Fechei os olhos por um instante e cenas de pavor tomaram uma parte da minha mente sombria, uma ponta de medo surgindo no fundo, onde se escondiam todos os meus receios que me chamavam ardentemente. Me senti temerosa pelo tempo que roubamos juntos, mas eu jamais me arrependeria e nem mesmo temeria ao dizer que eu gostei do que tinha.
Seria insano dizer que este era um glorioso propósito afinal? Que toda a dor planejada ao longo do tempo realmente fosse me conduzir à esta árdua realização?
Estou voltando a mim agora, o eu que eu nunca conheci.
Então me virei novamente para ver a cena pintada sobre a cama girando em seu corpo e sorrindo para mim, talvez até um pouco confuso, até mesmo incrédulo, tanto quanto eu, que todo o mal havia acabado e que agora existia apenas nós.
Ele chamou meu nome e eu sorri com a pronúncia, com o tom, com o timbre.
Éramos muito do mesmo, mas nada iguais e eu poderia viver aproveitar o resto da minha vida com ele exatamente daquela forma, gravada em uma tela, cantada em uma canção, escrita em um poema.
Dois pares incomuns para um sentimento usual, mas ele é a parte de mim que não falta mais.
Seus olhos azuis quase sempre eram preenchidos com o preto de sua pupila quando me olhava encarando a janela.
- O que está olhando? – Ele me pergunta, quase roucamente, tão imerso na situação como eu. Então, com os olhos levemente marejados, e um bocado exagerado de sentimentalismo reprimido, eu digo:
- As possibilidades.
No fim, jamais soube se acordei ou se era real. Mas não importava, porque no fim, tudo parecia mesmo um sonho.
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Sylki One-Shots e Poesias (Português)
FanficEste é um lugar seguro e aberto para todos que shippam este casal. Aqui tem reunidos todos minhas one-shots e devaneios dos dois. E para quem lê em inglês, tem uma versão no perfil com esta e outras histórias deles. Melhores Rankings #5 em Sylki