Sylki One-Shots e Poesias (Português)

Amor de Alma

“Há muito tempo se conta a história de almas gêmeas espalhadas ao redor de todo o mundo, destinadas a se pertencerem eternamente e nem sempre a se encontrarem.

Muitas vezes, algumas almas passam a vida toda buscando por sua metade perdida, aquela que preenche por vez a incompletude do ser e traduz-se em totalidade magnânima.

Ainda na Grécia Antiga, dizia-se que todos éramos completos, com quatro braços e quatro pernas. Os andróginos, filhos do Sol, da Terra e da Lua, dotados de tamanho poder quis se opor contra os deuses, e então Zeus decidiu puni-los, partindo-os ao meio e os deixando para padecer de fome. Entretanto, imbuído de sua misericórdia, Zeus permitiu que eles não mais morressem em solidão, mas assim, deveriam encontrar sua metade perdida e reintegrar-se com ela para serem completos novamente.

Ao longo da história, escrita pelas mãos de um Deus poderoso e soberano, tanto quanto desconhecido, muitas almas se encontravam no meio do caos de possibilidades e pessoas, mas infelizmente a maior parte delas não possuíam o mesmo privilégio.

Renascendo incontáveis vezes, as almas se cansam de buscar suas metades até que, eventualmente, padecem lentamente na escuridão solitária e profunda.

Entretanto, as Tecelãs também não teciam a teia do destino em vão. Muitas vezes cruzando jornadas inesperadas em um emaranhado complexo de trajetórias, todos que passaram na vida de alguém, sendo ou não sua alma gêmea, sempre deixariam resquícios de si para trás.

E foi pela mesma teia do destino que duas almas se cruzaram em um uma condição inacreditavelmente improvável.

Desafiando a própria variação do espaço-tempo, o que muitos ainda negam ser um absurdo, neste mundo nada era impossível, e ninguém sequer já ousou encontrar sua alma gêmea na iminência de um apocalipse.

Então tudo começou exatamente lá: no fim do mundo, que era apenas o início para eles.

Encarando todo o desafio constante, essas duas almas percorreram por vales de sombra e medo e até mesmo batalharam entre si, sofreram turbulências e tentações das quais não foram passíveis de aceitar.

Muitas vezes, por coincidência do destino, a sua metade não mora no seu vilarejo ou na sua terra, nem mesmo no seu país ou em seu planeta. As fronteiras são ilimitadas e dizem que vão além do conhecido, e é quando não dá para buscar fisicamente por elas, que as Tecelãs criam as conexões entre mundos e dimensões, com portais que navegam por entre espaços e te levam exatamente onde você deve estar.

Quando é o seu momento de encontrar sua alma gêmea, não vai importar quem seja ou onde está, sua vida é entrelaçada e coincidida com ela e, inevitavelmente, não há absolutamente nada que você possa fazer para impedir. Você apenas pode deixar acontecer, e é mágico, como fogos de artifício.

Ela representa seu ser em totalidade, e o que é uma alma gêmea se não uma parte perdida de si mesmo?”

Um sorriso maquiavélico surgiu entre os lábios da pequena criança deitada na cama, enquanto Loki permanecia com os fogos flutuando sobre sua palma direita.

“A mamãe é sua alma gêmea?” O pequeno disse sugestivo, os traços de Loki eram sobreeminentes nele, os cabelos pretos característicos, o pequeno sorriso maquiavélico nos lábios.

“Ela é sim.” Loki respondeu, enquanto agora voltava a acarinhar os cabelos do pequeno Ivor e de Hilda, já meio adormecida em seus braços.

“Foram as Tecelãs que uniram vocês?” Hilda resmungou, cética, com os olhos fechados, mas ainda atenta à conversa. Loki pensou por alguns instantes em quem seria a Tecelã de seu destino, e ele só poderia julgar por sendo o próprio, mas não teve tempo de responder.