Capítulo II

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É manhã de um quinta-feira e Aemond faz o que faz em todas às quinta-feiras.

Ele está de pé assim que o sol se põe no horizonte, vestindo seus trajes negros de couro, e ajustando o tapa-olho, escondendo a joia safira que habita onde um dia houve um olho violeta. Aemond contempla a vista do céu azul celeste e do mar turquesa antes de deixar seus aposentos. Os criados já estão circulando pela fortaleza, silenciosos como sombras, eles não dedicam mais que uma reverência rápida para ele, acostumados a vê-lo assim que o dia amanhece.

Indo para a cozinha onde as cozinheiras começam a preparar o café da manhã. Aemond aceita o pão quente e o leite fresco que uma senhora robusta empurra em sua direção. Ela faz isso todos os dias, e Aemond nem sabe o nome dela. Pão e leite não são a refeição de um príncipe, é a de um serviçal. Mas é o que ele gosta de comer pela manhã, apenas homens desleixados com sua saúde comem peixe e carne gordurosa logo pela manhã. Ele segura a trouxa embrulhada em um pedaço de pano e o leva para o fosso do dragão, Aemond ceia agachado no chão irregular, saboreando o silêncio e o sal em sua língua.

Assim que toma o último gole de leite, Aemond espera alguns minutos para a digestão antes de fazer flexões no chão de pedra e areia. É um aquecimento matinal, para despertar seu corpo do sono. Em seguida, ele abre o grande portão de aço, encontrando seu dragão com os olhos fechados, dormindo pacificamente. Aemond já pode ver o drama que vai enfrentar ao acordá-la.

Depois de uma série de resmungos e choramingos, ele leva Vhagar para fora, escala sua lateral usando a escada de nós. Ele já está tão habituado que faz tudo em segundos, Vhagar parece prestes a adormecer novamente. Aemond a monta e acaricia sua pele grossa com firmeza, ele nem sabe se ela pode sentir, sua grandeza a deixa com menos sensibilidade ao toque.

- Valahd. - Horizonte. Ele brande alto para alcançá-la. Seu tronco se inclina quando Vhagar se ergue, cortando o vento com suas asas poderosas.

A primeira coisa que ele sente é seu coração batendo bravamente em seu peito, isso nunca muda. A emoção de voar, é sempre tão forte que seu peito podia abrir com o peso. A próxima coisa que o atinge é as correntes de ar frio batendo direto em seu rosto. Aemond respira fundo em puro contentamento de estar onde está.

Eles voam alto e rápido, ele incita Vhagar a ir mais longe, à superar seu sono e logo ela está agitada sob si. Mergulhando nas nuvens como uma criança novamente. Ela é velha, mas nunca deixou de ser uma criança no céu, feroz, veloz e empolgada, querendo provar para Aemond como venceu a guerra antes, e venceria outras que poderiam vir. Ela era tão poderosa. Vhagar era a coisa de maior valor que Aemond já teve.

Ela foi o preço por seu olho, e é ali no céu, que ele sabe que valeu a pena. Que teria feito tudo novamente, mas isso não significa que ele está perdoando o que Lucerys Velaryon fez. Olho por olho. Sua divida ainda não está paga.

Horas depois, quando pousa em terra firme novamente, ele entrega Vhagar para os meistres e caminha para a parte de trás da fortaleza, a movimentação é mais intensa e o silêncio não é mais uma virtude. Aemond ignora aqueles que o reverênciam e lhe desejam bom dia. Desprendendo sua espada, ele vai até os bonecos de feno posicionados no centro do pátio. Girando o cabo no punho em um movimento fluido, ele ataca, acerta à cabeça, então um braço que teria sido decepado, o peito e o estômago, seus pés deslizam no chão e seus braços balançam, seu corpo em sintonia como uma execução de dança. Ele é rápido e mortal, demora para seus músculos começarem a doer, ele está em boa forma, mas não é uma maquina, não importa o quanto deseje ser.

Logo Sir Criston Cole está lá.

- Soube que hoje à princesa Rhaenyra- - Ele não perde o tom enojado que Cole usa, como se quisesse causar dor física a sua meia-irmã, apenas dizendo o nome dela. - Estará aqui com os filhos.

The House Of Sky and Sea [Lucerys/Aemond]Onde histórias criam vida. Descubra agora