Parte um

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A nação de Denver estava dividida entre os festejos e as reclamações. Era o trecentésimo aniversário do reino, comemorado por festivais em todos os cantos, repleto de culinárias, danças, músicas e adereços.

A população gritava, a democracia presente em suas memórias da família real. Tão justa e nobre, sempre governara como lhes era prometido, embora não abandonasse a luxúria que dominava os muros do castelo e as vestes adornadas em paletas de ciano, branco e preto, a elegância demonstrada não só pelos enfeites, mas como também nos gestos e ações da família real.

Em quase toda a família real. Vance Hopper não era um exemplo disso. 

Conhecido por causar problemas no reino, gerar intrigas em bares, discutir com a população e por ser o príncipe mais velho. Seu irmão, Finney Hopper, era educado, gentil, escutava o povo e trabalhava pela mudança dos erros do reino.

Todo mundo acreditava que o príncipe mais novo seria o herdeiro do trono. Relações diplomáticas com outros reinos poderiam ser estragadas de forma devastadora, chegando a causar uma provável guerra futura, caso o próximo rei fosse o príncipe mais velho.

Vance Hopper sabia disso e sabia das suas atitudes. Odiava ser o mais velho e não hesitaria em passar o trono para seu irmão mais novo, mas, assim como os problemas do lado de fora do castelo se agravavam, os problemas internos estavam cada vez maiores. 

Os cabelos louros, cacheados e conhecidos por a beleza que emanavam eram prendidos em um coque, os dedos robustos tentando não perder os fios. A roupa fortemente presa ao corpo impedia certos movimentos, incluso aqueles braços levantados para a organização do cabelo.

— Que saco. - Vance Hopper resmungou, olhando seu reflexo no espelho. Conseguia escutar a gritaria do festival a partir de sua janela aberta.

Precisava estar arrumado e elegante para o trecentésimo ano desde que o reino fora fundado.

As botas de couro apertavam seus dedos. Eram as malditas menores botas que tinha em seu grande estoque, porém também as mais perfeitamente conservadas, pelo simples fato de Vance odiar usá-las o suficiente para que não desgastasse-as em sua costumeira rotina. 

Quando o coque fora finalizado, Vance suspirou. Tendo finalmente terminado seu preparo, moveu a mão até a maçaneta da porta, quando gritos que não vinham do lado de fora foram escutados.

— A organização está horrível! Eu sabia que esse trabalho era pesado demais para um inútil como você! Você é um fardo para esta família!

Oh, merda. Era o rei, seu pai, Nohldir Hopper, aquele velhote rabugento. Não sabia como as pessoas o amavam; talvez porque o rei fingia a gentileza que demonstrava.

Foram diversos jantares com o homem reclamando dos toques indesejados que recebia nos abraços de gratidão da população, com os empregados tendo o infeliz direito de escutar. 

Correu, ignorando a dor em seus pés pelo pequeno espaço que lhe eras oferecido. Passava pelos corredores tão bem-preparados para o festival, mas não o suficiente para que agradassem o dono daquele castelo.

— Sinto muito, papai. - Aquela voz tão doce era familiar aos ouvidos de Vance.

Como não poderia ser? Era seu irmão mais novo, Finney Hopper. 

— Você não vai aproveitar o festival hoje. - Vance tinha a visão completa da sala do trono. Seu pai estava sentado no assento luxuoso, apontando o dedo enrugado em direção à figura cabisbaixa e ajoelhada no chão. — Repensará suas ações no seu quarto.

— Mas, papai... - Finney ergueu o rosto, os olhos lacrimejando e a voz tremida. Era certo; ele iria chorar. — Eu... Eu... O festival... Robin me chamou para o festival...

Festival InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora