Extra

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Finney Hopper era um grande leitor de livros. A partir dessa mesma frase, Finney podia destacar que "grande", nessa posição, enfatizava muito mais sua tamanha admiração por livros do que seu tamanho corporal. 

De qualquer forma, Finney amava ler. Era encantado pelos livros desde criança e suas histórias infantis sobre um boneco de madeira que virou uma pessoa até sua adolescência e estudos científicos. Para ser honesto, Finney havia lido até mesmo questões políticas e sociais mesmo sabendo que não seria o herdeiro do reino. 

Nem mesmo se seu irmão, o príncipe mais velho do reino de Denver, Vance Hopper, quisesse. O rei, ou seja, seu pai fez questão de enfatizar isso em seu rosto mais de uma vez - bem mais, na verdade - e em mais de um lugar, fosse privado ou público. 

Não era como se Finney tivesse algum interesse pelo poder, pela riqueza ou até pela glória. Era clichê, ridículo, mas Finney só queria poder contrariar os livros. Queria acabar com os defeitos descritos nas entrelinhas dos livros camponeses que teve de contrabandear - o escândalo que seria se o rei descobrisse que livros de fora do castelo estavam sendo lidos por um príncipe -, com a pobreza abafada pelas doações mínimas de seu pai, com a cegueira pela luxúria que lhe envolvia. 

Apesar de tudo, Finney estava bem com o direito de ser apenas um príncipe. Se pudesse ser insistente, seu irmão lhe deixaria ajudar no governo. Finney gostava dele.

Mas Vance Hopper estava interessado em tudo, menos em ser um rei. 

— Você quer ser o rei?

Finney escutou essa pergunta quando foi ao quarto de seu irmão após acordar de um pesadelo. Ele vestiu um casaco de seda, deu uma leve penteada em seus cachos curtos e castanho-claros e saiu com os olhos marrons cheios de temor e lágrimas. Honestamente, não conseguia se lembrar com que havia sonhado. Só sabia que era algo ruim e que não lhe faria dormir novamente.

Vance era a única pessoa no castelo que lhe acolheria sem senso de obrigação, porque seu pai era rigoroso, rígido e não admitia príncipes chorões.

Ou ele apenas odiava Finney. Era o que rondava os corredores do castelo, as estradas dos vilarejos, as bocas das pessoas. Finney discordava. Ou era apenas isso que sua mente queria fazer para lhe defender da ideia de ser odiado pelo próprio pai.

Como esperado, seu irmão mais velho de cachos louros e longos lhe recebeu com um sorriso mesmo após ter sido interrompido de seu sono e o puxou para conversar.

De alguma forma, os dois acabaram naquele assunto. 

— O... quê? - Finney gaguejou, tentando discernir se o que havia escutado era real ou se ainda estava preso no mundo do subconsciente. 

— Se você pudesse ser o rei, você seria? - Vance questionou novamente, os olhos azuis encarando firmemente o irmão e aguardando sua resposta.

Sim, Finney seria. Quanto mais lia sobre política, mais se encantava pela diferença que poderia fazer. Quanto mais lia sobre estudos não autorizados pela família real, mais queria realizá-los. Quanto mais lia sobre opressão, mais queria acabar com ela. 

Finney sabia que a única maneira de querer transformar as histórias reais dos livros era estando no poder. Era ambicioso, sonhador e talvez ilusório, mas ele queria tentar e se esforçar, mesmo sabendo que o cargo estaria ocupado pelo irmão mais velho que ele amava mais do que os livros. 

— Não sei. - Respondeu, inseguro. Ele não queria levantar a suspeita de que planejaria um golpe para derrubar o próprio irmão.

Vance suspirou e olhou para o teto.

— Não quero ser rei. Quanto mais olho para nosso pai, mais repudio essa ideia. - Ele confessou, os olhos de Finney acompanhando sua expressão tristonha e frustrada. — Eu não gosto de ficar preso a governar e ter que pensar por uma população. Já é difícil pensar por mim mesmo, sabe? 

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