SALVAÇÃO

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Quando tinha onze anos, vi um passarinho morrer na minha frente. Antes da morte em si, observei todo o trajeto dele até seu destino. Ele estava voando baixinho, mas quando notou que era observado, bateu com força as asas, nesse momento, em que ele me cuidava e voava ao mesmo tempo, seu corpo minúsculo se chocou com a fiação elétrica de um velho poste. Assim, ele caiu em uma velocidade média, como se suas penas ainda tentassem funcionar.

Larguei meus carrinhos e tratores de madeira no chão e corri até o seu socorro.

Mas eu era jovem demais, se fosse um adolescente ou adulto, já saberia que o pássaro não sobreviveria, mas eu não era nenhum dos dois. Pensei que poderia salvá-lo assim que me aproximava ainda mais. Um sorriso bobo se manteve em minha face, eu o salvaria. Não. Não salvaria. Foi o que notei assim que agarrei seu frágil corpo nas mãos.

Ele tremia, tremia muito. Uma gosma de sangue com saliva saia pelo canto de seu bico. Quando percebi o estado do bicho, o sorriso se foi tão rápido quanto havia chegado.

Me lembrei de uma frase que meu pai tinha dito anos antes, enquanto enterrava o velho gato de mamãe — este, que já estava penando, resultando em meu pai tê-lo matado — ele disse claramente; Quando ver um animal sofrendo, faça algo para que ele não sofra mais. Ou seja, sacrifique-o. Era isso que ele queria dizer na realidade.

Para ser sincero, nunca havia entendido aquela frase estranha. Até o dia da situação com o pássaro, vi que precisava fazer algo, e fiz. Fui com ele nas mãos até onde eu brincava anteriormente, catei a maior pedra que achei em meio aos brinquedos e areia, coloquei seu corpo quase desfalecido na madeira da varanda e bati com a pedra na cabeça dele. O pássaro morreu. O pássaro parou de sofrer.

E aquele episódio me rendeu algumas lições, as quais eu costumava seguir quando adulto.

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