O segredo de Escríphya

Capítulo 1 - Receio

Observo toda a floresta que me cerca, sinto o vento bater sob o meu corpo como uma pena que cai suavemente sob o chão, o som que ecoa do vibrar da grama juntamente com o balançar das folhas formam uma agradável melodia que me faz querer dançar em harmonia.

Entretanto, é difícil concentrar-me de início, mordo o lábio em ânsia, estava há perder-me diante a tantas preocupações e perante o medo de não ser a qualificada para aquilo que está por vir, "no momento em que a mais nova atingir a sua maior idade, aquela mais hábil deverá logo ser proclamada a herdeira", as palavras de meu pai a esclarecer-me sobre a lei de Escríphya atinge a minha mente como uma bala certeira, porém, quando vejo o quão encantador é a paisagem que se forma em minha frente, sinto um alivio enorme a me percorrer.

Vejo-me então, perdida em meus pensamentos, assisto os seres místicos ali presentes a caminhar livremente pela densa floresta, fico hipnotizada ao contemplar uma mãe Timmy ensinar o seu filhote a caminhar, Timmys pertencem a esses seres, é possível perceber a sua semelhança com um simples tigre, porém, a sua pelagem é coberta por admiráveis tons de azul no qual recordam as ondas do mar, além de suas habilidades capazes de aterrorizar qualquer um, entretanto, é raro avista-los por estes terrenos tão distantes do oceano.

Noto o sol a mover-se, a quanto tempo estou aqui? Alguns minutos? Ou... talvez algumas horas? É intrigante como o tempo voa sem que nós o percebamos quando estamos com nossas mentes a vagear por aí.

- Buh! - ouço alguém gritar por trás de mim de forma repentina e um arrepio percorre meu corpo - sabia que te encontraria aqui - retorno a realidade, regulo a respiração e levanto o olhar a fim de reconhecer quem era, apesar de não ser necessário ao som inconfundível de sua voz.

Entre as folhas se revela em uma jovem alta, com curtos cabelos ruivos, seus olhos brilhavam uma mistura de tons de verde, as orelhas curvas e pontudas, os lábios finos, vestia uma camisa em um tom de verde claro por baixo de um colete de couro, uma calça marrom, botinas combinando com a cor da calça, um acessório de couro nas mangas e detalhes de agua marinha para ajudar a recarregar a energia Hëna mais rápido caso fosse necessário, estava levando consigo uma longa espada prateada com os mesmos detalhes na lateral de seu quadril.

- O que está fazendo aqui, Liluth? Pedi que esperasse no palácio dessa vez- ela ri ao notar o leve tremor em meu questionamento em consequência ao espanto e se agacha na minha frente com o rosto próximo ao meu.

- Desculpe, é que do nada me veio uma enorme vontade de ouvir os pássaros gritarem - brinca e arqueio as sobrancelhas, era a melhor desculpa que conseguiu?

- Eles cantam... e no dia que você sentir vontade de uma coisa dessas, a água marinha entraria em colapso - disparo seguido de uma rasada abafada.

- De fato - me lança um sorriso preguiçoso.

- E então? - volto meu olhar para as arvores passando os dedos pela grama macia ao meu lado.

- A rainha mandou eu vim te buscar, sua última aula de etiqueta começa em uma hora - sua voz era doce e calma, como uma melodia agradável, a olho, mais preocupada em admirar o brilho em seus olhos e Liluth me observa sentada no chão -, mas parece que vai precisar de mais do que uma última aula - a ruiva ri em ver minha expressão de indignação.

- Você não tem nada melhor para fazer? Não deveria estar divertindo meu pai, boba da corte? - sorrio num leve deboche.

- Oh, perdão vossa alteza - me dirige um largo sorriso - Mas estou ocupado demais sendo sua guarda pessoal. - Nossas risadas ecoam sob os ventos e a moça me ajuda a limpar o pouco de terra que havia sujado meu vestido.

Caminhamos entre as enormes arvores em direção a carruagem, no caminho nos deparamos com alguns coelhinhos selvagens a transpassar nosso caminho, eram tão admiráveis que não resisti em dedicar cinco minutos as pequenas criaturas, a jovem recorda-me que há pouco tempo para chegarmos lá, então logo entramos na carruagem.