Barco

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Notas Iniciais da Autora

Olá senhoritos ou senhoritas, estou aqui postando pelo terceiro dia consecutivo por livre e espontânea pressão.

Boa leitura. :]

- • 🥀 • -

Marinette

As vezes eu sinto que essa varanda parece um barco, é como se ela começasse a se movimentar e se balançar, lentamente, um barco desgovernado, do qual eu não sou capaz de nivelar as velas, ou coordenar as rotas que vou tomar, tudo começa a girar, a visão distorce e os anseios se tornam insignificantes.

Simplesmente parece mais útil deixar que o barco navegue sozinho.

E isso parece mais certo quando minha visão embaça, queria poder dizer que foi a água que me atingiu com força, e agora estou submersa com meus olhos tentando enxergar sobre a transparência bruta, mas não passa de lágrimas.

Minha última visão antes de fechar os olhos é um borrão do outro lado da varanda, até que uma figura preta se faça presente nesse borrão. Deslizo minhas mãos por trás até minha nuca, abrindo melhor minha visão para que meus olhos possam reconhecer aquela presença repentina. Vejo pernas longas encapuzadas de couro, e quando meus olhos sobem pelo resto do corpo, reconheço Chat Noir finalmente.

Meu Deus, o que ele está fazendo aqui?

Com o que eu deveria me preocupar primeiro? Em aparecer chorando em sua frente ou sua aparição aqui de repente?

- Marinette... - sinto sua voz sair em sussurro, percebo que a entonação da qual meu nome saiu de seus lábios se perdeu na dúvida de ser interrogativa ou não.

Penso em limpar as lágrimas e fingir que está tudo bem, inventar qualquer desculpa esfarrapada e manda-lo embora, mas sendo bem franca, não sei se quero que ele vá embora. E de qualquer maneira, não há como esconder isso, se estivesse só de passagem, nem teria reparado em mim aqui em cima, pra ter vindo até cá já deve estar me vendo chorando aos prantos há algum tempo, então ele deve ter visto de que foram lágrimas intensas.

- É o meu nome. - respondo em ironia dando um sorriso curto, olhando finalmente em seus olhos. Me apoio na espreguiçadeira e me levanto do piso de madeira.

- Você... não parece nada bem. - sua voz transparece receio ao me perguntar.

- É. - penso no que responder, eu sempre digo algo que contorne esse assunto, mas por algum motivo, é difícil mentir para Chat, sempre foi. - Não tem sido tempos fáceis.

- Você nem imagina. - ele dá uma risadinha abafada, o que genuinamente me faz fazer o mesmo. Sua mão vai até a espreguiçadeira, seu pé parece um pouco inquieto, sinto que quer dizer algo, mas não sabe bem como. - Parece que está segurando o choro a meses.

Queria poder dizer que estava, mas tenho chorado quase todos os dias. Eu lembro que o primeiro dia foi intensamente devastador em lágrimas.

E todos os dias são como o primeiro.

- Sinto como se estivesse guardando o choro há anos... Mas é irônico, porque meus problemas de verdade começaram há dois meses atrás. - digo rindo abafado mais uma vez, passo o braço pelo meu rosto molhado, depois o apoio junto com o outro na espreguiçadeira e fungo meu nariz por conta da choradeira.

- Como se fossem pesos que não sabíamos que estávamos carregando, mesmo sabendo que eles começaram a pesar em pouco tempo.

- Eu acho que isso deve ter algo a ver com a infância.

𝘼𝙙𝙙𝙘𝙩𝙞𝙤𝙣 | marichatOnde histórias criam vida. Descubra agora