Textos semi-filosóficos.

Pessoas e Livros

Assim como um pássaro que tenta imitar um peixe na água, eu tentei abandonar meus livros e minha companheira solidão, para dedicar meu tempo tentando entender as pessoas. Eu só entendo as pessoas de dentro dos livros, porque eles me concedem a habilidade mais desejada pelos seres humanos: ler mentes. Ao ler um livro, você digere a psique de um personagem. Um escritor engenhoso pode tentar colocar uma mistura de mistério e suspense em suas histórias, mas quando o leitor é tão engenhoso quanto ele, através das pequenas palavras bem escolhidas, ou bem ocultadas, pode-se desvendar o final da história antes mesmo de o espetáculo terminar de ser montado.

Se eu pudesse me isolar de todos em um casulo com uma larva bibliotecária, eu o faria. Quem diz que a leitura é complicada demais nunca se deu ao trabalho de olhar em volta de si mesmo. Dizem que as pessoas são um livro de páginas abertas, mas isso é a maior falácia contada na história da humanidade - e talvez na história do universo. Quando eu enxergo as pessoas, eu tento interpretá-las como livros, mas isso não funciona. Devia ser óbvio, elas são muito mais complexas. Num livro que posso estudar em 10 horas, se eu gastasse todo esse tempo conversando com uma pessoa só, eu nunca a entenderia completamente.

É primitivo para o ser humano entender os outros seres humanos? Dizem que a leitura é difícil porque não nascemos com essa habilidade, mas sim a adquirimos ao longo da vida. Será que assim é possível entender a psique humana, completamente? Então porque mesmo depois de tanto tempo investigando as causas e consequências, nunca encontrei uma resposta sobre mim mesma?

A resposta da minha falta de respostas está na minha frente, eu só não quero a enxergar, porque eu não queria que fosse a realidade. A resposta é: não há apenas uma resposta. As pessoas não são fórmulas, pré-definidas, exatas, onde tudo pode se calcular e prever, assim como faz o leitor engenhoso do começo ao fim. Não há como ser um leitor engenhoso dos seres humanos. Os mais próximos a isso são os psicólogos, - um tributo a eles, eu os venero por dominarem a matéria mais difícil da vida - mas às vezes, nem eles conseguem deslindar os próprios pacientes. E quando chegam perto disso, demora tanto, tanto tempo, que eu já poderia ter terminado dezenas de livros. É por isso que eu prefiro livros, meus universos finitos em palavras planejadas.