CAPÍTULO 2: Quatro de julho

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Hamptons, Nova Iorque.

O feriado do 4 julho era comemorado religiosamente. Antony e Eleonor se conheceram neste feriado. Virou um marco na vida da família Bird.

Jonas é descendente de uma miscigenação muito interessante. Seus pais residem no Brasil, assim como ele e sua esposa. Mas, sua avó é italiana e se apaixonou por um americano. Joseph Bird é colecionador de vinhos e em uma de suas viagens à Itália ele conheceu o vinhedo da família de Eleonor.

Um passeio agradável pelas plantações de Sangiovese, uma uva muito produzida naquela região, e eles acabaram nos braços um do outro, com apenas as estrelas e o luar de testemunhas. Nove meses depois, ela deu a luz ao seu primogênito, que levou o nome do pai.

Agora eles estão se preparando para a comemoração de mais um ano que se inicia na vida desse casal, que já está junto há cinquenta e seis anos.

— Amor, você pegou meu protetor?

— Droga — profere baixinho —, esqueci.

— Sério, Andrea? Foi a única coisa que te pedi para não esquecer. Onde você estava com a cabeça?

— Eu esqueci, Jonas. Acontece.

— Não quando se toma as devidas providências.

— O que você queria que eu fizesse?

— Que parasse de viver com a cabeça no mundo da lua já seria um bom começo.

— Você poderia ter feito isso. Poderia ter arrumado suas coisas.

— Mas, acontece que eu trabalho. Não fico em casa coçando o saco.

— E eu fico? Eu cuido da casa sozinha e ainda trabalho meio expediente de home office.

— Aquilo não é trabalho. Trabalho é o que eu faço, o que põe comida na mesa.

— Já vai começar?

— Não! — Ele se virou. — Vou sair.

— Aonde você vai?

— Farmácia, ora! Vou tentar achar alguma que venda o meu protetor.

— Traz chocolate! — gritou.

Andrea não fez faculdade. Casou-se jovem, ainda com vinte anos. Sonhadora, ela cuidava do lar e se imaginava com uma grande família, já que seus pais só tiveram ela de filha.

O tempo passou e o sonho não se realizou. A cada ano seu esposo vinha com uma desculpa. Ele foi se enchendo de títulos e buscando o reconhecimento de todos ao seu redor. Nunca seria o suficiente e um filho só atrapalharia seus planos de subir na vida.

Um cursinho aqui e outro acolá. Ela sempre gostou de desenhar. Daí vieram as aulas de web designer e Andrea aproveitou. Fez alguns cursinhos online e criou um site onde mostrava seus trabalhos. Conseguiu pegar algumas contas para administrar. Ela era muito boa e seus clientes não tinham do que reclamar. Mas, não rendia como o trabalho de seu marido. Tentou fazer alguns rótulos para as novas criações de vinhos, mas dona Eleonor não aprovou nenhum. Eram simplórios, além de sua nora não ser uma designer famosa.

Jonas até poderia ter dado seu aval, afinal, ele era o CEO das empresas de sua família. Ele não precisava da aprovação de sua avó. Mas, ele jamais passaria por cima da vontade de sua nonna.

— Conseguiu?

— Claro que não.

— Trouxe meu chocolate.

— Ah, esqueci. — Foi debochado.

— Sério que você pagou com a mesma moeda?

— Imagina... eu me esqueci de verdade. Estava preocupado procurando a marca do meu protetor, seu chocolate não era importante.

Não diga: Eu Te Amo. Mostre-me. [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora