Seis

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Josh Adams

Ser delegado de Jacksonville Beach não era uma tarefa difícil.

Na maioria das vezes era tranquilo, uma vez ou outra aparecia uns arruaceiros, mas nada muito preocupante.

Era uma cidade pequena, então as notícias corriam rápido. E a notícia de que ela tinha chegado foi mais rápida ainda, os grupos de fofoca foram a loucura.

Era o assunto na cidade, e na minha mente.

Eu não me engano, não nego o misto de sensações que eu senti com a notícia, porque acima de todos eu senti saudade, depois veio a amargura.

O primeiro amor não se esquece fácil, e eu tentei, juro que tentei, fiz de tudo.

Mas cá estou eu, Josh Adams, 27 anos, delegado de Jacksonville Beach, ainda apaixonado pela mesma pessoa.

Parece até piada, mas não era, e se eu falasse a alguém isso, com certeza iam me julgar como eu ainda era apaixonado mesmo depois de tudo que ela me fez passar. A resposta seria não sei.

A única coisa que consigo fazer em relação a isso é tentar reprimir o que sinto, jogar no fundo do baú e trancar com uma chave, mas pelo visto ela tem a chave para trazer a tona.

Não falariam na minha cara, é claro, tenho a fama de uma pessoa séria, indiferente e alguns tinham até medo de mim.

Correm boatos de que o que aconteceu me deixou assim, outros falam que foi ela ter ido embora, e eu não posso negar, depois que ela se foi, levou tudo de bom que existia em meu coração.

O meu coração era dela, e quando se foi, levou ele. Se tornou, Seu coração.

Naquela época depois que a raiva passou, eu fui atrás dela, mas já era tarde demais.

Então resolvi transformar todos os meus sentimentos em realizações, me formei, me tornei o que eu queria desde sempre, construí minha casa, abrir um clube.

Me tornei o melhor para mim, assim como uma vez havia prometido para ela, mesmo que ela não esteja junto para me ver cumpri-la.

Neste momento estou a caminho da casa da senhora Matilde, a segunda vez na semana, para ver um suposto arrombamento.

A dona Matilde é uma senhorinha de 84 anos, e a qualquer coisa que acontece ela liga para delegacia, fazia isso mais de 5 vezes na semana, e enquanto eu não ia averiguar ela não se acalmava.

Dessa vez ela disse que alguém arrombou a porta da sua cozinha e quebrou sua torneira.

Claro que pode ser verdade, mas ela mora com a neta e bem, a neta não viu nada. E ela também só aceita que eu vá, e me faz tomar chá todas as vezes.

Como eu disse, uma cidade tranquila.

— Obrigada Delegado Adams! — a senhora baixinha fala, enquanto me leva até a porta. — Você sempre tão prestativo.

Encaro Wallas, que está comigo nessa ocorrência, o mesmo segura a risada, era o novo policial da cidade e tinha vindo para trabalhar aqui. Era jovem e um bom garoto.

— Estamos aqui para isso, sra. Matilde. — falo a ela. 

Wallas tosse. 

— Até logo.

— Até da próxima vez venha tomar um chá comigo e Nicole. — ela grita da porta. — Traga esse outro bonitão!

Ele arregala os olhos.

— Pode deixar! — grito de volta. — Está vendo como não é só comigo? — digo a Wallas, enquanto tiro o cigarro do maço.

Eu tinha adquirido o vício de fumar a alguns anos, fazia minha mente se ocupar com outras coisas.

— Nunca vi uma casa que surgisse tantos problemas como a dela.— ele fala rindo.— Acho que é só para te ver.

— E agora você.— falo, enquanto fumo.— Você pode ir na viatura, que eu vou no meu carro.

Ele concorda e entra na viatura enquanto eu me dirijo ao meu carro, entro e jogo o resto do cigarro no cinzeiro.

No caminho para a delegacia da cidade, eu resolvo passar na biblioteca e trocar o último livro que eu tinha pego lá, outro vício, a leitura.

A biblioteca era um dos lugares mais bonitos de Jacksonville Beach, quando entro vou a recepção e comprimento todos, deixando lá o livro e vou a procura do novo.

Olho as prateleiras, mas nada me chama atenção, e quando estou prestes a subir para o segundo andar, escuto uma música ser tocada no piano.

Primeiro eu acho que é miragem, seria impossível o som chegar aqui, por conta das paredes revestidas, justamente para não incomodar os leitores desta área.

Mas continuo escutando, e quando a voz começa a tocar, era como se um imã me atraísse, e em poucos segundos já estava no corredor que levava a área musical.

A voz, a música me soaram familiares, e quando parei na porta soube o porquê. Poderia se passar séculos, sempre seria familiar.

Era ela, sempre ela.

América Sullivan, minha Méri.

Meu vício

E eu não conseguir sair dali, era como se tivessem pregado meus sapatos com cola permanente, e eu não conseguisse me mover.

Ela continuava linda, a mais linda de todos, não tinha mudado praticamente nada, talvez tivesse ganhado um pouco mais de corpo, mas o rosto continuava o mesmo, a mesma voz, o mesmo sorriso quando cantava, a mesma postura, o toque delicado dos seus dedos no piano, até o gosto por as roupas.

Eu sabia que teria que ver ela em poucos dias, por causa do casamento do meu irmão com a irmã dela, mas até lá já estaria mais preparado.

Não seria como agora, que fui atingido com ela tocando, fazendo o que eu mais amava ver ela fazer, não perdia uma apresentação sua, nada impedia que eu a visse tocar.

Ela tocar sempre me atrairia, não importava a distância.

E quando ela termina acontece, entre a salva de palmas, nossos olhares encontram um o olhar do outro.

Como se nunca tivessem se desencontrados, porque o tempo parece parar, e eu sinto a chama acender em meu coração.

Como se estivesse somente guardado, esperando o momento certo. O momento que ela voltasse.

O amor sobrevive a muitas coisas, eu só não sabia se o nosso tinha.

E talvez lá no fundo eu torcesse para que sim, que ele estivesse acima de qualquer mágoa, ou ressentimento.



Até próxima quarta.

Boa leitura, beijos.


O Delegado Em Seu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora