Capítulo 19 - Patch de Modificação Aplicado

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Um pouco antes do final da madrugada, Dia acordou com um sobressalto. Sentiu um calor subir pelas suas costas, uma sensação que já era frequente nos últimos meses e fazia sua cabeça doer. Sabia que Noite ficaria preocupado se soubesse, e sabia também que não conseguiria esconder por muito tempo.

Levantando sorrateiramente, ela se afastou um pouco do irmão e foi se sentar em uma área da beira da estrada onde a grama era fofa. Observando o céu que estava na hora mais escura, ela começou a murmurar uma canção.

Deseje o céu, sonhe com estrelas

Anseie pelo mar, canções de baleias

Clame por terra, vasta, firme e forte

Almeje a vida, a luz, a morte

Lembrando da voz de Yrina entoando aquela música, Dia se encolheu. Era a canção de ninar que a bruxa cantava para ela e seu irmão quando eram pequenos, há muitos anos atrás.


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Antes de partir do continente de Fearaniar, Yrina vagava por uma tundra em uma tarde nublada quando encontrou duas crianças abrigadas debaixo de um amontoado de pedras que formavam uma pequena caverna. Lá elas estavam sentadas, de mãos dadas e aparentemente dormindo. Apesar da aparência de humanos entre 6 e 7 anos de idade, ela sentiu que não eram crianças comuns, principalmente pelo fato de que mesmo depois de acordados eles não expressavam emoção nenhuma, nem quando ela os levou para sua cabana e tentou alimentá-los.

— Vocês sabem falar? — Ela encarava os dois, que apenas a observavam, enquanto os pratos com sopa esfriavam na mesa a frente deles. — Eu me chamo Yrienna, mas podem me chamar de Yrina. Vocês têm nomes?

Sem resposta, ela apenas suspirou e deu de ombros.

— Tudo bem então, eu posso dar um para vocês. Eu consigo dar nomes até para árvores! Eu fazia muito isso lá onde eu morava. Sabiam que macieiras gostam de ser chamadas por nomes compridos? Já os pinheiros preferiam nomes compostos.

Yrina era o que chamavam naquele continente de Deva, uma entidade não humana com características que eram consideradas divinas. Alguns deles eram tratados como deuses, outros como espíritos, mas todos tinham por natureza o papel de cuidarem e olharem por um lugar ou pelas pessoas. Não era um trabalho definido, os devas simplesmente faziam isso desde o início dos tempos, mas Yrienna, como era chamada antes, não estava satisfeita em zelar pela grande floresta onde nascera. Mesmo dividindo seu posto com Thariaknar, outra deva nascida no mesmo local que já era cultuada como deusa desde séculos antes, Yrina se sentia sobrecarregada e entediada. Ela então desistiu de sua posição e saiu pelo mundo, conhecendo lugares, pessoas e sentimentos novos.

— A floresta ficava linda nessa época do ano... Inclusive hoje foi o equinócio de outono. É uma data especial. — Yrina se debruçou na mesa, encarando as crianças. — Vocês sabem o que é um equinócio?

Os olhos dos gêmeos a encaravam, sem transmitir o mínimo de emoção. Era quase como se eles fossem apenas cascas vazias.

— Significa que o dia e a noite são iguais. — ela sorriu.


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O final da madrugada também era a hora mais fria, e Dia sentiu o abraço do irmão pelas costas a aquecendo.

— Eu quase esqueci dessa canção. — Noite apoiou o queixo na cabeça dela.

Side Quest: A Busca Pelo Meu NPC Favorito!Onde histórias criam vida. Descubra agora