"Vou te pendurar"
A mensagem no whatsapp de um número desconhecido continha um link que levava a uma página de internet com diversas matérias de assassinatos de pessoas LGBT+s, seus olhos não viram a matéria sobre um rapaz desaparecido, porém acessou uma sobre o sádico sexual que ainda parece estar desenvolvendo o modus operandi, Isa provavelmente gostaria de ler sobre, mas ele não. Talvez engano? Ou talvez... pegadinha de Vitor certamente, nem na viagem de estudos o namorando estava impedido de fazer suas trollagens, riu sozinho mas se conteve para não chamar atenção em meio a aula.
Tirou um print e enviou para Vitor.
" Bem a sua cara mesmo"
Deixou o celular no bolso assim que ouviu o sinal perturbador da faculdade anunciando o fim da noite, devolveu os livros para a moça da recepção na biblioteca antes que esquecesse e pagasse a multa de dois reais.
— Em cima do laço como sempre né Gustavo. — O tom debochado de Isa ao pronunciar seu nome lentamente ressalta uma verdade que ele não vai admitir, sua preguiça, que o faz deixar tudo para o último segundo.
— Ai, recebi do Vitor um link sobre assassinatos, quer ver?
O rosto da amiga se abriu para um sorriso digno do coringa, se ela não estivesse sentada na mesa da recepção teria caído no chão. Estudante de psicologia e criminalística, Isa era viciada em documentários e passava 24 horas do seu dia no site do JusBrasil.
—Me envia!
*
Adentrou o micro-ônibus, sentou-se no banco a frente da roda, onde ficaria na parte de trás o bastante para se sentir confortável e ainda assim próximo a porta, caso ocorra alguma emergência, não podia evitar, não depois de ver vídeos sobre acidentes envolvendo estudantes que Isa vivia lhe enviando, sacando o celular da mochila percebeu uma carta de baralho ao fundo, não era de nenhum número em específico, na verdade era uma ilustração de um homem carregando uma trouxa de pano nos ombros, usando roupas rasgadas parecidas com o que um bobo da corte teria, sem dar atenção imaginando que seria algo do Fábio, afinal ele era o pagão do grupo. Pensando no próximo livro é surpreendido por uma notificação anunciando uma nova mensagem.
"Uma puta oferecida como vc deve ser fácil"
Uma luz acendeu em sua cabeça, não seria a primeira vez que Vitor fez alguma pegadinha desse tipo, porém ele conhecia os limites das palavras que o namorado usaria, e o chamar de "puta" era uma delas, aquelas mensagens não vinham de quem ele achava que era.
"Acho que você errou de número"
"Não Gustavo"
Um frio deslizou de suas mãos seguindo até o peito, bloqueou o número, não responderia, não queria receber mais mensagens, assustado, ofendido, tirou um print das mensagens e encaminhou para Isa, ela entendia mais dessas coisas.
"Então não foi o Vitor que te mandou?"
"Não, eu achei que era, ele vive fazendo isso..."
"Olha, já pensou em encaminhar para polícia?"
"Não, recebi isso agora pouco..."
"Então já sabe o que fazer quando quando chegar"
*
Caminhando pelas estradas desertas de seu bairro, Gustavo tomava todo o cuidado para não cair em algum buraco de bueiro aberto, as casas indistintas no breu recebiam a precária luz da lanterna do celular, a um tempo atrás se imaginava morando no campus, fazendo os trabalhos da universidade sentado em um gramado, mas descobriu que essa não era a realidade do seu país, então obrigou-se a alugar uma casa dentro do orçamento que tinha, pelo menos havia um quintal com grama. A falta da iluminação causada pelos arruaceiros que insistiam em atirar pedras contra as lâmpadas toda a vez que empresa de energia as repunha, o estava irritando especialmente aquela noite, vivendo em uma cidade pequena, repleta de mentes fechadas e preconceitos internalizados, parecia atrair o vandalismo como um imã.
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O Enforcado
HorrorGustavo é um jovem como qualquer outro, exceto pelas mensagens sinistras que tenta ignorar, perseguido por um assassino, luta pela sua vida até se tornar algo mais bonito aos olhos do sicário.