0 | Prólogo

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Yuri Alberto

Um ano antes.

O elenco estava voltando para o hotel depois de perder a final da Copa do Brasil para o Flamengo e o silêncio que pairava pelo ônibus era ensurdecedor. Vez ou outra, algum dos meninos tentava puxar algum assunto, mas o silêncio se instaurava novamente pouco depois. Todos estavam ocupados demais pensando no que poderiam ter feito de diferente para mudar o resultado e trazer a vitória para o clube.

Tínhamos acabado de presenciar os piores sentimentos da Fiel. Para qualquer lugar que olhássemos no estádio havia um torcedor chorando e era impossível não sentir culpa.

Chegamos ao hotel depois de trinta minutos. Todos desceram do ônibus ainda em silêncio e foram se despedindo à medida que as duplas foram se encaminhando para seus quartos.

Fui para o meu quarto e devido a minha chegada que havia sido recente, eu não costumava dividir com ninguém.

Assim que cheguei ao quarto, fui para o banheiro tomar uma ducha quente. Sentir a água quente cair sobre as minhas costas fez o meu corpo inteiro se aliviar por alguns segundos.

Desliguei o chuveiro depois de alguns minutos e saí do banheiro. Coloquei uma bermuda folgada, deixando o abdômen nu devido ao calor.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para a mãe da minha filha, avisando que eu ligaria para falar com a menor e depois da sua resposta, iniciei a chamada de vídeo.

— Papai — Ysis disse. Por mais sonolenta que ela parecesse, ela ainda conseguiu abrir um sorriso.

— Oh, princesa. Papai te acordou?

— Sim, papai, mas eu pedi para a mamãe me acordar. Hoje foi jogo importante, não é?

— Sim, princesa — respondi com um sorriso fraco.

— Vocês ganharam? É claro que sim, não é? Papai é muito bom — disse antes que eu pudesse responder.

— Na verdade, não — Tentei responder de uma forma positiva — Nem sempre nós ganhamos, minha princesa.

— Mas você ainda é o melhor jogador do mundo — Eu não pude deixar de sorrir.

— Eu te amo muito, princesa.

— Eu também te amo, papai.

— Agora você precisa dormir e o papai também.

— Ah, papai. Queria conversar um pouco mais com você.

— Eu também, mas você tem escola amanhã, filha — disse e a menor fez um beicinho — Por favor, princesa. Pelo papai.

— Tudo bem, mas amanhã você me liga de novo? — Ysis perguntou, suplicante.

— Claro, meu bem. Papai sempre arranja um tempinho para falar com você, não é?

— Uhum — Ysis concordou com um sorriso.

— Tchau, princesa. Boa noite. Durma bem.

— Tchau, papai — Ysis respondeu. Beijei a ponta dos dedos e levei até a câmera, desligando a chamada de vídeo logo em seguida.

A conversa com minha filha deixou meu coração quentinho. Ouvi-la dizer que eu ainda era o melhor jogador do mundo para ela fez com que eu ignorasse todo o sentimento de insuficiência que estava sentindo, mesmo que por pouco tempo.

Peguei uma cerveja no frigobar disponível no quarto e me sentei sobre a cama. Liguei a televisão e coloquei numa série qualquer para distrair a cabeça.

AMOR DE FIM DE NOITE yuri albertoOnde histórias criam vida. Descubra agora