28. Mentiras

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Natasha Romanoff Pont of View

Descemos do carro e como sempre Wanda abriu minha porta, já estávamos a algum tempo nisso e eu me pergunto quando ela irá parar de fazê-lo. Senti seus dedos se entrelaçado aos meus e fitei nossas mãos juntas. Sorri, porque bom: não tinha como evitar,  sentir esse simples gesto me causa inúmeras sensações quando se trata dela. Wanda ergueu meu rosto pelo queixo e depositou um beijo em minha testa. Seguimos o resto do caminho em um silêncio confortável. Quando entramos em sua casa Wanda recebeu um telefonema de seu trabalho indo para um canto qualquer atender a ligação. Fiquei observando suas mãos balançando enquanto ela falava com a pessoa do outro lado da linha. A luz vinda da Alianovala refletia em sua pele e seus olhos estavam verdes acinzentados, fiquei analisando sua expressões faciais como uma maníaca até que seus olhos pararam sobre os meus. Um sorriso calmo se formou em sua boca e ela me olhou por mais alguns segundos até voltar a conversar. Silenciosamente uma sensação sufocante tomou conta de meu corpo, meu coração parecia ser esmagado e eu senti uma sensação terrível, como um péssimo pressentimento. Respirei fundo algumas vezes tentando calar esse sentimento ruim e quando me dei conta Wanda estava sentada do meu lado no sofá perguntando se eu estava bem. Eu não sei ao certo se a respondi ou não mas seu corpo envolvia o meu em um abraço carinhoso.

_ Tudo bem Nat eu tô aqui. - Disse afagando meus cabelos. - Me conta o que houve.

_Nada, foi só uma sensação ruim.

Ela assentiu e disse que tudo ficaria bem, eu não vi outra escolha a não sei pensar que sim. Wanda me levou até seu quarto e nós tomamos um banho juntas antes de irmos para sua cama. Ficamos alguns poucos minutos conversando coisas triviais até que Wanda pegasse no sono me deixando perdida em pensamentos. Por mais que eu gostasse da ideia de estar com Wanda e isso incluía agora a família dela, é como se eu soubesse que por ser minha própria vida, me baseando em todo meu passado, as coisas não seriam fáceis e como de costume provavelmente em algum momento eu estragaria tudo.

[...]

Vinte e sete minutos e trinta e dois segundos marcavam os números vermelhos do visor, posicionado exatamente ao lado de onde Sharon mantinha sua câmera gravando. Restavam dois minutos e sessenta e oito segundos para resistir a posição desconfortável que aquela cena exigia. Não é como se eu amasse esses pontos de meu trabalho, ter alguém em cima de mim indo mais fundo o possível para seu próprio prazer ou talvez pensando no prazer da grande maioria de espectadores homens, esses de fato não eram meus melhores momentos como atriz pornô. Sentir as mãos firmes pressionando com força meus pulsos sobre a cama não era o tipo de transa que mais me agradava, ter as pernas contra meus seios me abrindo do jeito mais grotesco não estava nas minhas preferências, sentir a pulsação do ator dentro de mim enquanto me via sem quase nenhuma umidade nem de longe me motivava. Mas meu rosto não dizia isso, nem mesmo a falsa rouquidão em minha voz. No final de tudo esse era meu trabalho, atuação. Me via nesse momento como um pedaço de carne, sendo apertada,esmagada, chupada e dilacerada em todos os péssimos sentidos que tais palavras poderiam ter. E essa não era a pior parte de cenas como essa, não era minha pele marcada dias depois, isso era um pequeno impecilio do processo. O pior era ao fim desses 50 segundos restantes, não o momento em que ele derramava sua porra em qualquer parte de meu corpo corpo, nem de longe isso era um incomodo. O grande e lamentável desafio disso era quando as câmeras se desligavam. Era esse o momento, o ator caminhava pelo set exibindo qualquer tipo de masculinidade que isso poderia proporcionar a ele, as equipes se mobiTashaavam em arrumar os últimos detalhes, algumas pessoas comemoravam o sucesso da cena, e eu?

Bom, eu olhava nos fundos dos olhos de Sharon tentando continuar atuando e dizendo com o olhar que eu estava bem, falhando em fazê-lo é claro. Ninguém seria idiota o suficiente em acreditar que algum dia alguma mulher possa se acostumar a ser literalmente fodida dessa forma. Agradeci uma jovem que vendo meu estado petrificado e sem vida me estendeu um roupão fino. Amarrei rapidamente a tira me apressando em tentar sair dali antes que Sharon terminasse com seus equipamentos. Coloquei meu olhar sobre a cama uma última vez, sentindo um nó na garganta e uma dor terrível me fazendo querer chorar e pedir para que isso parasse. O máximo que consegui me afastar foram três largos passos.

_ Perfeita! Você foi absolutamente perfeita Natasha. O meu pai sempre teve razão, você nasceu para isso. - Disse o moreno orgulhoso pelo resultado final  das cenas.

_Quem sabe... Fiz o meu trabalho nada mais. - Forcei um sorriso, uma voz profissional ou qualquer coisa que não demonstrasse meu abalo emocional.

_ Não seja modesta, desde a morte de meu pai quando assumi os negócios não me lembro de ter visto talento tão grande. - Ele afagou de leve meu braço fazendo com que eu me encolhesse por puro instinto. - Eu tenho certeza que o Sexy hot esse ano será seu.

Sorri levemente.

_ A única certeza que tenho é que preciso de um bom banho. E mas do que isso, quero dois dias antes de voltar para o set.

_ Você terá minha estrela. Estamos na quarta tire o resto da semana você  foi merecedora.

Eu assenti e esperei uma deixa para sair dali o mais rápido possível, pedi socorro com os olhos para Sharon que pareceu me entender e começou a mostrar alguma coisa em seu tablet para meu chefe, ele conseguia me causar mais neuseas do que as cenas em si. Revirei os olhos quando vi o ator cujo nome artístico conseguia ser mais broxante que o próprio nome, rindo de alguma coisa que uma ajudante dizia. Aspirante a atrizes, era assim que Sharon gostava de chama-las. Eu me via em algumas dessas garotas, com dezoito anos esse mundo parece como um sonho, sonho esse que conforme se dorme mais se aproxima da manhã , e quando você acorda e  se da conta vive em um pesadelo real no qual não se pode voltar atrás.

Entrei no camarim e tomei uma ducha tentando tirar qualquer resquício que tenha ficado em mim. Vinte minutos depois quando estava parcialmente satisfeita comigo mesma, peguei uma toalha secando as partes mais importantes vestindo rapidamente uma camiseta branca e um jeans. Eu sentia o pano colado em alguns pontos molhado em minha pele, em uma das mãos entre dois dedos segurava um cigarro que aos poucos acalmava parte de mim. Eu desejei que ele pudesse tirar parte dessa angústia que eu sentia, mas nem a droga mais poderosa do mundo faria isso. Meu celular vibrou no chochete do carro refletindo o nome que transformou esse aperto em leves palpitações bem ao lado esquerdo de meu peito. No único lugar de meu corpo que nesse momento poderia agir por si só resgatando o pouco de pureza que havia sobrado em mim.

_ Oi linda. - Wanda disse e embora eu não pudesse ver eu sabia que ela tinha um sorriso enfeitando os lábios.

_ Oi Sharon. - Minha voz não passou de um sussuro trêmulo.

_ Ei?! Que vozinha é essa Tasha?

_ Não é nada. Eu estou bem só um pouco cansada. - Fiz o meu melhor para soar firme.

Ouvi seu suspiro do outro lado e isso fez meus olhos se encherem de água. Eu sabia que isso a afetava e me odiava por isso.

_ Você estava gravando de novo não é? - Perguntou baixo.

Me limitei a fazer um som nasal não querendo dizer nada errado. A verdade era que faziam três semanas desde a noite do jantar na casa dos pais de Wanda. Depois disso voltamos a viver nossas realidades, ela procurando por verdades e eu encenado mentiras. Três semanas de gravações, cinco dias diferentes de em média duas ou três horas de um sexo fantasioso.

_ Quer passar a noite comigo hoje? - Ela voltou a perguntar.

_ Não acho que seja um boa idéia. - Repondi com cuidado.

Ela suspirou de novo.

_ Não há nada que eu ainda não tenha visto. Venha para casa comigo Natasha. Me deixa fazer alguma coisa, qualquer coisa para me sentir menos impotente e te fazer se sentir melhor.

Dessa vez o suspiro derrotado veio de mim eu apenas disse que chegava em alguns minutos. Eu deslizei as mãos pelo volante do carro e joguei a bituca pela janela. Eu só não parava de pensar ou implorar para o destino, Deus ou qualquer coisa que fosse alívio ou paz de espírito. Fisicamente esgotada era um mero detalhe para essa bagunça emocional e essa sensação ruim que me assombrava.

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