Um dia de cada vez

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   Após a batalha, todos voltaram para a proteção dos portões que foram fechados, grandes engrenagens eram utilizadas para mover aquelas duas portas pesadas de aço puro. O forte era constituído pela grande mansão onde haviam os quartos, refeitório, dispensa e salas de reunião. Lembrava muito o alojamento na academia de West, mas conseguia ser um pouco maior. Ao lado da mansão havia outro alojamento um pouco menor, os guerreiros machucados entravam ali mostrando que se tratava da enfermaria. Os magos que eram responsáveis por manter vários e vários homens e mulheres vivos davam seu melhor, mas os números nunca diminuíam, sempre aumentavam. Uma música angustiante de gemidos de dor e choros estava presa em suas mentes, estavam naquele clima a tanto tempo que nem sabiam como era receber uma notícia boa. O comunicado de que reforços estavam ali não chegava a balançar seus corações sem esperanças, se encontravam exaustos, esgotados e sem vontade de continuar aquela árdua batalha sangrenta.
  
   Foi então que os boatos começaram a surgir, e a agonizante música mudou seu ritmo, de um mago que eliminou toda a horda em instantes, aquela fagulha foi o suficiente para acender seus olhos mais uma vez, a equipe constituída por quinze magos dentre eles homens e mulheres usaram tudo de si, pois sabiam que em algum momento os feridos parariam de entrar. Normalmente levaria um dia inteiro para conseguirem ter controle total da batalha, fora as baixas constantes, mas naquele dia foi diferente. Antes do meio do dia, as portas não se moviam mais informando a entrada de outro homem ferido, já haviam muitos deitados em estado crítico naquele enorme salão. Pietro Boulevard era o responsável por todo o setor médico, estava de frente para um guerreiro que dava seus últimos sinais de vida, a perda de sangue e a enorme ferida em seu estômago tornavam impossível sobreviver ali. O círculo mágico em suas mãos brilhando em verde  mostrava que ainda não havia desistido de tentar salvar mais um, suor escorria em seu rosto pelo esforço empenhado, seus olhos vidrados no seu paciente teimavam em derramar lágrimas por ver uma vida se esvaindo bem em suas mãos. Não podia pedir ajuda, pois toda sua equipe estava no mesmo barco, se sentia frustrado por não conseguir fazer o que tanto gostava, que tanto se dedicou a estudar e aperfeiçoar, que era salvar vidas, viu mais mortos em uma semana do que em toda a sua carreira.

   Sua atenção foi tomada pela porta que até então havia parado de se abrir, mas não havia guerreiros machucados entrando e sim três crianças, pelo menos aos seus olhos, pois eram novos, dois guerreiros e um baixinho que parecia ser um mago. “Onde esse mundo vai parar, até crianças estão entrando para a guerra...” pensou consigo mesmo rindo em desespero. No instante seguinte toda a sala ficou muda, todos os pacientes pararam de se debater, chorar ou gritar por ajuda, foi tão repentino que um zunido ainda era tocado dentro da cabeça de todos ali que pararam assustados pelo que estava acontecendo. Pietro ficou tão aturdido que não se moveu, apenas observou e apreciou o silêncio que se fez e então círculos mágicos apareceram sobre todas as macas, haviam mais de setenta delas, cada uma com um guerreiro ferido, fora os que estavam jogados nos cantos por não haver leitos suficientes. Assistiu abismado quando o corpo do guerreiro a sua frente primeiro brilhar em azul, podia sentir que mana era produzida por ele mesmo, logo depois a enorme ferida se fechou em uma velocidade incrível, pode acompanha passo a passo das fibras voltando ao lugar que deveriam estar e então o círculo mágico sumiu, deixando o guerreiro com a respiração estável e seu rosto antes pálido voltou a ter cor, dormia como se não precisasse se preocupar com mais nada.
 
    Olhando a sua volta, Pietro viu que o processo se repetiu em todos que estavam no lugar, até que nenhum mais corresse risco de vida, todos foram curados com excelência. Seus olhos pararam na pequena figura que estava muito concentrado com uma varinha em mãos, seus olhos brilhavam intensificando o profundo azul celeste, seus cabelos brancos se moviam lentamente em resposta a intensa mana lilás que emanava de seu corpo esguio, e só parou quando teve certeza de que todos estavam bem. Suas pernas vacilaram mas os dois que o acompanhavam seguraram seu corpo para que não caísse no chão, ambos preocupados com o bem estar da figura branca. Com apenas um aceno informando de que estava bem para seus acompanhantes que mesmo assim não soltaram seu corpo, os olhos azuis vasculharam todo o ambiente até encontrar os olhos verdes de Pietro e começar a caminhar em sua direção em passos leves como pluma acompanhado pelos outros dois.

Reencarnation (Isekai)Onde histórias criam vida. Descubra agora