A maldição de Afrodite

153 21 7
                                    

   Apesar de sua superioridade em poder, era inegável o quanto a figura de Tânatos vinha fazendo falta a Hades, que sem contar mais com seu guia, andava tendo de ele próprio se encarregar em tal ofício

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

   Apesar de sua superioridade em poder, era inegável o quanto a figura de Tânatos vinha fazendo falta a Hades, que sem contar mais com seu guia, andava tendo de ele próprio se encarregar em tal ofício.

   Mortais pereciam diariamente, em lugares e momentos distintos, mas numa frequência que parecia testar constantemente a onisciência do deus, que não mais preso somente ao Submundo, vinha vagando por sobre o mundo terreno atrás das almas que lhe pertenciam, recolhendo-as e as encaminhando para as margens do Estige, onde por fim Carontes poderia dar prosseguimento à viagem deles para as terras póstumas.

   Não estava muito distante quando ouviu uma alma em especial lhe chamar, a agonia na atmosfera delatando a dor de seus últimos momentos de vida, antes da chegada do deus. Agora, tão próximo do fim, Hades conseguia reconhecê-lo: Adônis, um dos tantos amantes de Afrodite, jazia mortalmente ferido nos braços de uma jovem que ele aparentemente desconhecia.

   Ainda assim, a tristeza e espanto eram presentes na face da dama, que o velava como se fosse um conhecido de longa data. Também havia inconformismo em sua postura, mas o Rei do Submundo não estava disposto a deixar que tal compadecimento o impedisse de buscar aquela alma.

   Foi quando ela o olhou diretamente, e tudo pareceu perder o sentido.

   Trajando seu elmo, Hades deveria estar invisível aos olhos mortais. Entretanto, as íris castanhas que o encaravam com assombro demonstravam que aquele definitivamente não era o caso.

   — Diante de mim vejo um espírito da floresta, um ser maligno ou uma deusa? — inquiriu, desconcertado com aquela figura feminina que o encarava com tanto temor. — Apresente-se imediatamente!

   Parecendo ainda estar chocada demais com sua presença, ela desviou o olhar, dirigindo-o para algum ponto imaginário diante dos pés do deus, que aguardava por uma resposta sua.

   — Posso não habitar o reino dos olimpianos, mas de minha mãe e de meu pai vem minha natureza divina. Chamo-me Cora, senhor. — ela declarou, a voz trêmula enquanto insistia em abraçar aquele jovem enfermo contra si.

   Cora. Por algum motivo, Hades sentiu que aquele nome deveria significar algo para si. Contudo, tal sentimento não pareceu se estender por muito tempo antes que ele recobrasse o motivo de estar ali.

   — Creio que tenha algo que me pertença, Cora. — ele disse, dessa vez num tom mais paciente, vendo na confusão no rosto dela um motivo para elaborar mais a sua fala. — A alma deste rapaz. Necessito levá-la comigo.

   Curiosamente, nem mesmo tais palavras pareceram surtir o efeito necessário na moça, que parecendo ainda mais confusa do que a princípio, sussurrou receosa:

VIDA & MORTE - O despertar de PersephoneOnde histórias criam vida. Descubra agora