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TODOS OS DIAS EM QUE DOU FUGA NA POLÍCIA

— Cacete.

Meu cérebro, que antes estava cercado por álcool, se liberta automaticamente da embriaguez assim que escuto o caos se instalar lá embaixo. As pessoas no sexto andar, começam a se levantar, mas permanecem em silêncio. Elas sabem como funciona, que os únicos fudidos são os que estão cheios de substâncias ilícitas até o rabo, como eu, é claro.
Não quero ir embora e deixar Manila, mas eu vou me fuder muito se não for. Ele não bebeu, pelo menos espero que não, então não tem com que se preocupar. No entanto, quando eu me viro para dar um tchau desengonçado, Manila está chorando.
Nunca imaginei que algo poderia me incomodar tanto.

Me aproximo dele, me ajoelhando em sua frente. Agora, ele está completamente coberto pelo cobertor, mas está abraçado em suas pernas e chora compulsivamente. Olha para o nada, como se eu não estivesse ali, o que me deixa ainda mais preocupado. Por um momento, eu não sei o que falar e as palavras se embolam dentro do meu cérebro sem formar nada que faça sentido. Tento respirar fundo, mais sóbrio do que nunca estive na vida.

Lá embaixo, escuto um policial mandar todo mundo parar. Preciso ir embora. Como? Estou no sexto andar, a única saída é no segundo e ainda é uma queda dolorida. Não posso deixar Manila, de qualquer jeito. Vou ser preso.

— Eles — Manila sussurra, o que chama minha atenção. Agora, ele está olhando para mim. — Estão aqui por minha causa, não estão? Eles me acharam. Ele me achou.

Não faço ideia nenhuma do que esse garoto está falando, mas tenho certeza de que os policiais não estão nem ai para ele, a menos que esteja bêbado. Faço que não com a cabeça, tocando seus joelhos com delicadeza, mas o toque ainda parece errado mesmo assim.

— Claro que não. — Respondo. — Estão aqui porq—ue estamos bebendo e usando drogas na escola.

Uma fagulha de esperança corre o olhar de Manila e eu não consigo deixar de notá-la. Ele tira o cobertor de cima de si e segura minha mão. Por um momento, estou em transe e não consigo ouvir nada, tudo é um grande zumbido. A única coisa que posso sentir é sua mão. Um policial grita lá embaixo, o que me desperta. Ele avisa que vai subir. Estou ficando sem tempo.

— Me tira daqui — Manila pede.

— Agora. — Respondo de imediato.

Seguro sua mão com mais força e me levanto, ele me seguindo. Caminhamos pelo andar, nos mantendo o máximo possível na escuridão, mas um policial aparece, com uma lanterna. Ele ilumina os rostos e alguns xingam, irritados. O policial os manda calar a boca e prossegue para o outro lado, o que é nossa oportunidade de sair de fininho.

Tento me concentrar no caminho e não nos dedos de Manila segurando os meus, o que é difícil, mas consigo levá-lo até próximo ás escadas, onde iremos para o quinto andar. Não vamos ter como passar pelos policiais que estão lá embaixo, porque eu nem ao menos sei quantos são. Penso nos gêmeos e espero que eles já tenham escapado à essa altura.

Meu próximo pensamento é o quanto sou idiota por ter prendido a mim mesmo no último andar de um prédio que está cercado de policiais.

— Não temos como sair pelas escadas. — Digo, baixo, e seu corpo está tão perto do meu que mal consigo respirar. — Todo mundo está lá embaixo.

Ele parece já ter pensado nisso, o que me deixa confiante. Manila para por alguns segundos e mesmo na escuridão sei que ele está pensando em alguma coisa. Depois, começa a me puxar, e corremos novamente pelo andar, entrando em um corredor que eu nunca tinha ouvido falar antes. Seguimos em silêncio e o barulho lá fora começa a diminuir, o que significa que estamos nos afastando de toda aquela bagunça. Manila me guia até uma sala, que não tem nada além de uma cadeira velha e uma mesa longa de madeira. No centro da sala, na nossa frente, há uma janela que ilumina o lugar. Consigo finalmente ver o rosto de Manila e ele está preocupado, não olha para mim.

Life on Mars? (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora