5

351 45 31
                                        


TODOS OS DIAS EM QUE NÃO SEI QUEM ELE É

Passamos mais algum tempo no hospital, Manila, Ezequiel e eu, sentados ao lado de Nataniel, ainda dormindo, os três em completo silêncio, sem saber o que falar. Ezequiel olha para mim algumas vezes, querendo me contar algo, mas não tenho forças para levantar e ir até ele – na verdade, tenho medo de ser colocado contra parede.

Algumas vezes, olho para Manila de relance, sentado ao meu lado, encarando seu próprio sapato com um olhar distante. Ele está tão perdido em seus próprios pensamentos que consigo finalmente entender sua pergunta para mim mais cedo.

"Para onde você vai quando está pensando?"

A pergunta na hora não me pareceu importante, mas agora ela volta e volta em meus pensamentos com uma frequência quase irritante. Só não é porque é a voz de Manila dentro da minha cabeça, me perguntando a mesma coisa de novo e de novo. A constância da sua voz nos meus pensamentos me acalma, ao mesmo tempo em que sua presença silenciosa do meu lado me deixa quase perturbado. Quero tocá-lo, sei lá, mas isso provavelmente é apenas um desejo hormonal mesmo. Quero estar perto dele com tanta vontade que me sinto envergonhado. O momento não é esse. Nataniel está ali, alguns metros de distância, dormindo. Eu devia estar pensando nele.

O rosto dele chama minha atenção, mas é Ezequiel, olhando para mim. Parece ter me chamado, porque Manila também está me olhando, esperando alguma resposta. Fico um pouco vermelho, com vergonha.

— O que foi? — Pergunto.

— Tá com o que no ouvido? — Ezequiel questiona, irritado. Dou um desconto a ele. — Podemos conversar? A sós?

Apenas faço que sim com a cabeça, sentindo meu estômago revirar. Manila desvia o olhar de nós quando eu o olho, antes de sair da sala. Acho que ele também está com vergonha, não sei. Não faço ideia do que passa na cabeça dele.

Sigo Ezequiel em silêncio, nossos passos sendo os únicos pela extensão do corredor quase vazio. Pela janela de vidro arroxeado, posso ver o por-do-sol. Está quase na hora de ir, penso eu. Tenho trabalho com Rosa. Manila vai querer ir comigo?

Paro de pensar nisso quando o gêmeo para de andar, se voltando para mim. Ele cruza os braços e de repente parece muito assustador. Sei que, talvez, eu consiga me sair bem em uma briga com ele, porque os gêmeos estão acostumados a brigar em dupla, os dois juntos, sempre. Por isso o péssimo desempenho de Nataniel ontem. No entanto, não quero ter que lidar com a ideia de que Ezequiel está bravo comigo ao ponto de querer bater em mim. Manila ficaria do meu lado? Colocaria Ezequiel em uma maca do lado da do irmão?

— O que houve? — Pergunto, baixo, mas sem nenhum motivo. Estamos quase sozinhos e quem passa não se importa com a nossa conversa.

Ezequiel suspira antes de falar.

— Tá comendo a Garotinha? — Ele pergunta, na lata.

Geralmente, eu ficaria nervoso, depois vermelho. Mas, por alguma razão, me sinto muito irritado com essa pergunta, tão irritado que cruzo meus braços assim como ele e ergo meu rosto, me aproximando, diminuindo um pouco nossa distância. Estou desafiando Ezequiel, um dos meus melhores amigos, mas não consigo me conter. Não é direito dele.

— E se eu estiver?

Ezequiel sorri, o que me surpreende e, depois, dá uma risada. Sinto o peso sair dos meus pulmões, enquanto olho para ele, em confusão. Ele percebe, porque ri ainda mais, antes de me dar um soco no peito. É fraco, porque estou acostumado, mas ainda dói bastante.

— Relaxa, porra! — Diz, rindo. — Tu ia me bater, Vilão? Caralho cara, tu deve tá apaixonado mesmo. Não precisa ficar assim. Só quis saber.

Tento relaxar, mas não consigo. Não quero que ele saiba de algo assim nunca.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 01, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Life on Mars? (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora