Me chamo Kaleb, tenho 20 anos. Moro numa cidade não tão grande aqui do norte, jogo futebol desde criança. Na verdade, participava de uma escolinha e foi de lá que conheci meus amigos. Os pais do Gabriel são amigos dos meus pais, quando a mãe dele inscreveu ele na escolinha, pediu pra minha mãe também me inscrever, pra ele não ficar sozinho. Eles moram ao lado de casa, então era comum nossas famílias se reunirem domingo e almoçarem juntos.
Aos finais de semana, a turma que participava da escolinha ainda decidia se encontrar, alugávamos um campo sintético, onde o time que perdia pagava o lanche pro time que ganhava. Funcionava assim, eram 5 jogadores de cada time, o prêmio era um pra um. Se eu era do time que perdia, pagava a merenda pra um dos caras que ganhava, o que ele quisesse comer.
Nesse dia, ia faltar um jogador em um dos dois times, Gabriel, meu melhor amigo e meu vizinho, ficou de levar um primo dele que ia mudar pra cá pra cidade pra fazer faculdade.
Eu já tinha ouvido falar do cara, mas nunca tinha visto ele, na verdade ele nunca veio pra cidade antes. Às vezes, o Gabriel passava o natal no sítio de um tio dele no interior, devia ser o pai desse garoto.
Não tem nada que eu me lembre de ter feito, sem o Gabriel estar comigo. Uma vez, ele caiu do topo da árvore de azeitona, por sorte dele e o meu azar, ele caiu em cima de mim, foi a primeira vez que quebrei a cabeça, enquanto ele não tomou danos. Também, uma vez ele deu a ideia de martelar vários pregos na árvore de abacate da vizinha, porque ouviu dizer que fazia dar mais frutos. E deu, a vizinha falou pra minha mãe e pra mãe dele. Não sei o que houve com ele, mas meu pai me quebrou na porrada. Dá pra fazer um livro só com as histórias e o perrengue que esse fdp me fez passar.
Ele era pardo, alto, engraçado, usava um corte degradê, risco na sobrancelha e uma tatuagem no braço de medusa. Tinha um bigodinho bem alinhado, e estilo de galeroso. Era mais velho que eu por quase 2 meses.
Eu sou pardo também, acho que a maioria dos nortistas é. Meu corte é social, tenho um cavanhaque bonito, mas imperfeito, regado de minoxidil. Algo que chama muito a atenção é a minha boca, percebi isso quando uma menina que fiquei disse que ela era carnuda e as bordas são bem definidas. Tenho ombros largos, 1,73 de altura. Malhava desde os 16 anos, mas uma "amiga" disse que eu estava ficando muito feio, tipo, eu estava bastante definido, e eu era muito baixo nessa idade, parecia um anão entroncado. Isso me desanimou e só voltei a malhar com 18. Ou seja, me considero um cara bonito, pode se dizer padrão.
Voltando sobre o jogo,
Gabriel apresentou o Pedro pra galera: — Aí galera , esse aqui é o Pedro Henrique vulgo PH, mas também conhecido como Rodo. Ele vai jogar pra completar o meu time. - Falou com a mão estendida no ombro dele.
—Rodo? - Matheus comentou rindo.
—É galerinha, terror das meninas lá no interior, só não comeu nossa prima porque a mãe dela pegou no ato. - Gabriel comentou rindo e bagunçando o cabelo do Pedro.
Todo mundo começou a rir, e ir pras suas posições. Eu era o atacante desse time, e o Gabriel, atacante do time dele. Alex era o mais velho de nós todos, ele era o cara mais tranquilo dali, sempre levava a mulher pra assistir ele jogando, Camilla, e depois de um tempo, ela virou nossa "árbitra".
Fomos tirar no cara ou coroa quem iniciaria com a bola. Antes dela jogar a moeda pra decidir, Alex correu até ela, deu um selinho, entregou seu óculos pra ela e voltou pra posição. Gabriel me puxou pelo colete, com a língua monstruosamente pra fora, como se fosse me babar todo dizendo:
—Vem aqui, vem Kalelzinho, deixa eu te dar um beijinho também pra te dar sorte, vai.
—Vai te fuder, o que tu quer tá mole. -Falei me soltando dele.
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O Fut de Sábado
Short StoryUm clube de futebol para crianças, e uma tradição que se manteve mesmo depois de adultos. A história de dois amigos de infância, e a chegada de mais um membro pro time. Que mudaria todo o destino dos envolvidos. 1-"Essa história tem um vocabulário...