Capítulo 31

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As pancadas foram ficando mais altas.

            O som dos mordedores que vinham em minha direção parecia ter se dissipado.

            Ainda havia pavor percorrendo o meu sistema nervoso central.

            Um conflito interno se instalou: eu deveria abrir os meus olhos numa jogada completamente em nome da sorte, no qual podia continuar vendo aquele pesadelo com mais cenas destrutivas para o que ainda resta de Luke em mim, ou finalmente ter retornado para realidade que tenho ansiado há algum tempo.

            Não sei quanto tempo fiquei adormecido.

            Será que foram minutos?

            Ou horas?

            Torço internamente para que tenham sido apenas alguns minutos ou até mesmo poucos segundos de cochilo, porque se eu tiver adormecido por muitas horas com certeza terei deixado os meus amigos no mais absoluto perigo.

            Novamente os pensamentos sombrios invadem.

            Se tiver acontecido alguma coisa.

            Eu deixei todos expostos.

            As pancadas conseguem evitar com que eu caia novamente nas arapucas da consciência que me levariam em direção ao precipício, contudo, os sons das batidas têm demonstrado que a queda também está perto demais da minha pessoa, o que me faz realmente sentir como se a garganta estivesse se fechando bem lentamente.

            Eu mantenho os olhos fechados.

            Forçando-os.

            Uma falsa proteção.

             Quando a sensação de movimento unido com aperto é enviada ao meu cérebro, advindo da região do meu braço esquerdo, instantaneamente resgata aquela sensação que tive um pouco depois de ter conversado com Eva sobre o vazio que ela deixou.

            Eu estou de volta à realidade?

            Ou seria um daqueles mordedores dilacerando o meu braço?

            Mas não há qualquer sinal de dor intensificada.

            Certo, tento me motivar internamente a ter coragem para enfrentar aquilo que está me aguardando em frente as minhas pupilas, cobertas com cortinas que foram presas ao chão com cadeado que apenas a chave certa é capaz de abrir.

            Percebo que sinto o meu corpo.

            Uma sensação molhada em minha testa.

            A respiração parece estar meio acelerada.

            Tomo fôlego o suficiente para ter uma pequenina faísca de motivação para enfrentar o incerto, me fazendo gradualmente abrir ambos os olhos, que pareciam estar tão fechados que passava a sensação de meus cílios haviam sido selados com uma supercola enquanto deixava a minha cabeça endireitada.

             Um alívio me permeou.

            Quando a pálpebra superior se descolou da inferior.

            Sentindo um certo geladinho por causa das lágrimas que foram expelidas pelo movimento.

            Já tinha aberto praticamente toda a cortina das janelas da alma, pude notar a rua e seu semáforo, com uma cor parecida ao laranja, pois essa dificuldade era o cérebro que ainda estava tentando processar o retorno praticamente abrupto para o plano do mundo real.

Contenção: O EstopimOnde histórias criam vida. Descubra agora