Desculpas?

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Depois de alguns dias, como prometido pelo médico que me atendeu, o hematoma começou a desinchar meu rosto e fazer com que eu voltasse às atividades, o que significava voltar ao trabalho antes que meu chefe me despedisse.
Quando passei pelos corredores da empresa naquela manhã de retorno, eu realmente esperava que ninguém me olhasse torto. Eu tinha caprichado no look daquela manhã a fim de desviar a atenção que todos tinham no curativo em meu nariz e na cor escura que ainda se destacava abaixo de meus olhos.

Passei direto pela minha mesa e me enfiei em uma sala de reuniões, onde ninguém poderia me achar ou ver a situação em que eu me encontrava. Ninguém, exceto Shonda.

-Onde está minha jornalista favorita? - Ela apareceu com a cabeça na porta recém aberta, me libertando da atenção que eu dava a uma matéria que escrevia no notebook.

Shonda imediatamente fechou a porta atrás de si e entrou na sala, caminhando em minha direção.

-Caramba, ele fez um estrago com seu nariz. - Ela disse se aproximando e olhando o curativo de perto. - Já se perguntou se precisará de cirurgia?

-Não vai ser necessário... - Eu falei. - E mesmo se precisasse, não consigo pagar.

-Ué, mas ele pagaria.

-Ah, sim. - Foi inevitável não rir. - Vou bater na porta da casa dele e exigir que pague meu tratamento.

-Você só pode estar de brincadeira, não é? Você não sabe quem realmente pagou seus custos no hospital?

-Meu plano de saúde?

-Bobinha... - Ela pulou da cadeira, parecia animada. - Ele pagou tudo.

-O quê? - Eu congelei com aquela informação.

-Ele pareceu bem preocupado com você. É muito fofo.

-Estamos realmente falando da mesma pessoa? - Perguntei confusa.

Rapidamente, nossa conversa foi interrompida quando Jenny, uma jornalista da redação, abriu a porta da sala e lançou um sorriso para nós duas.

-Soyang, ele está aqui.

-Ele quem?

-Son... - Jenny abriu um sorriso maior ainda. - Sonny.

-Ai caramba. - Um frio percorreu minha espinha. - Diga que eu não estou aqui.

-O quê? - Shonda quase berrou comigo.

-Ele não pode me ver assim, eu...

-Tarde demais, ele já está vindo... - Jenny disse.

-Droga, droga!

-Vamos, fale com ele. - Shonda pulou da cadeira e começou a passar a mão em meus cabelos e em minha roupa, arrumando algo imaginário. - Agradeça a ele.

-Por ter quebrado meu nariz?

-Pare de ser chata. - Ela pegou suas coisas e deu uma última olhada em mim. - Ele esteve preocupado. Ligou todos os dias perguntando sobre você.

-O QUÊ?

Ela apenas lançou uma piscadela e saiu da sala junto com Jenny. Quando me dei por conta, estava sozinha novamente, mas, dessa vez, com alguém prestes a entrar na sala.

Son estava ali, para me ver. Por um momento, pensei em montar uma armadura para tudo o que viria logo a seguir. Eu deveria brigar com ele? Dar o tapa que eu não pude no dia no acidente? Ou apenas ouvir o que ele tinha a dizer? Antes que eu pudesse pensar no que fazer, ele apareceu na porta e deu três toques leves.

Talvez eu ou todos estávamos acostumados a vê-lo com o seu icônico uniforme branco de campo, mas naquela manhã ele estava diferente. Usava uma roupa casual. Uma camisa branca lisa e um casaco marrom com a estampa conhecida da Burberry. Nos pés, um tênis branco da Adidas, o cabelo bem penteado e um perfume tão cheiroso que cogitei a ideia de perguntar a marca. Mas o que chamava a atenção não era seu look, mas sim o ramalhete de flores que ele segurava em uma das mãos, uma mistura de cravinas e rosas.

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