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Gelo e curativos, por favor!

Era estranho estar em casa em pleno meio de semana, principalmente quando se vivia em uma cidade tão movimentada como Londres. A notícia do ocorrido já tinha circulado. O jornal tinha me ligado para saber da procedência da informação e se eu tinha condições de voltar logo a trabalhar. Era claro, eles não se importavam se eu estava bem, não se importavam se a jornalista ia ficar com a cara deformada, só se importavam com a produtividade da empresa.

Shonda me ligou, ainda estava gripada e falava com a voz fanhosa, mas ficou preocupada. Falei que estava bem, mas que precisaria de uns dias para me recuperar.

-Devo algo a você. - Ela disse. - Você assumiu meu lugar e ainda levou uma bolada no nariz.

-Você quer parar de falar sobre isso? - Falei enquanto me sentava no sofá da minha casa com o rosto lotado de curativos.

-Está em todo canto, Kim. - Ela falou. - Já fizeram vídeo, memes... Você deveria processar todos eles.

-Enfim, preciso desligar... - Disse tentando me esquivar do assunto.

-Tudo bem. Não se esqueça de colocar gelo.

-Pode deixar.

Desliguei a ligação e voltei a minha fiel e solitária companhia. Abri a câmera frontal do meu celular e comecei a dar uma olhada na situação do meu nariz. Meu rosto inchado parecia ter saído de um filme de terror. A dor tinha passado, mas a inflamação continuava, o que dava de brinde alguns pontos extremamente arroxeados ao redor do olho e por baixo dos curativos. Respirar era um pouco doloroso, então eu precisava usar a boca, o que não era nada correto de se fazer. Se mamãe me visse naquele estado cairia para trás. Ela sempre me dizia que eu deveria ter seguido a carreira de modelo, pois, segundo ela, eu tinha um lindo rosto, digno de capas de revistas.

Mas agora era totalmente diferente, eu não seria capaz de sair numa capa de revista tão cedo. Quando mamãe e papai descobriram do incidente, quiseram correr para Londres. Eu os impedi. Já era adulta e sabia me cuidar sozinha, mas, ainda assim, não foi o suficiente. Os dois logo ligaram para a senhora Hughes, minha vizinha e a mais chegada da família.
Ainda me recordo de como ela olhou para mim quando abri a porta para recebê-la.

-Oh, meu bebê! O que aconteceu com seu rosto? - Ela perguntou enquanto passava a mão em meus cabelos e tentava me consolar. - Seu pai ligou para mim e pediu para eu dar uma olhada em você.

-Eu estou bem, senhora Hughes, não precisa se preocupar.

-Como não? - Ela entrou e logo percebi que ela carregava uma cesta de palha lotada de coisas dentro. - Trouxe alguns remédios e ingredientes, farei uma sopa para você.

-Obrigada.

-Quem fez isso com você?

Como eu diria para ela? Um jogador muito famoso que quebrou meu nariz, senhora Hughes. Ignorei a pergunta, pois sabia que uma hora ou outra ela veria na internet ou na televisão. Imediatamente, meu pensamento foi direto para o autor dessa confusão: Heung Min Son.  

Ele parecia extremamente atordoado ao me ver sangrar. Eu sabia que não era culpa dele, mas ainda assim, não deixei de transparecer minha raiva. Eu estava no canto errado e na hora errada. Lembro-me de quase ter dado um tapa nele quando a correria da comissão e de jogadores começou a me cercar. Mas agora, depois do sangue ter esfriado, pensei em como toda aquela situação deve ter sido difícil para ele, que se culpava muito quando algum colega de time ou até de outros clubes se machucavam por sua causa.