Correr

232 21 5
                                    

Foi um descuido deles, e ela pretendia aproveitar ao máximo.

Ela tentou sair do galpão o mais silenciosamente que seu corpo moribundo permitia, seus ossos estralando e protestando conforme andava.

Tomando cuidado com o som que seus pés produziam no chão frio ela passou por portas e corredores, abrindo os furtivamente até encontrar a saída.

Quando chegou as grandes portas de madeira sem se deparar com nenhum de seus algozes ela agradeceu baixinho a qualquer ser divino que a ouvisse.

O sangue pingava do seu corpo constantemente, ela sabia que deveria ir rápido, eles não deveriam demorar a voltar.

Abrindo uma das pesadas portas ela se deparou com a escuridão, a floresta estava mortalmente silenciosa. Ela não pensou muito sobre os perigos que encontraria na mata a dentro - nada poderia ser pior do que acontecia dentro daquele galpão.

Então ela correu.

O mais rápido que suas pernas machucadas pudessem ir.

Pulando entre galhos ela correu sem olhar pra trás, seu peito arfando e ofegando pelo esforço.

Seu corpo mesmo machucado estava trabalhando em sua capacidade máxima para fugir do horror que ela estava sofrendo nas mãos daquele casal sádico, daquelas aberrações da natureza.

Ela correu por horas, ou apenas minutos, ela não saberia dizer. Quando chegou em uma clareia, perto de um rio ela parou.

Laurel sabia que enquanto estivesse na floresta, coberta de sangue e escrementos corporais nunca seria longe o bastasse, aquela fera bestail poderia lhe caçar mas no momento o espaço que ela percorreu tinha que dar.

Tomando longas respirações ela acalmou seu coração atormentado apenas por alguns segundos antes dele voltar a correr acelerado quando ouviu um rugido não muito distaste de onde estava.

Ela xingou baixinho antes de voltar a correr.

Ela sabia que era inútil, mas sua alto preservação e seu medo estavam no comando e a fizeram voltar a correr.

Laurel podia ouvir o farfalhar das árvores enquanto o monstro a seguia, seu corpo era incapaz de ir mais rápido, ela viu uma pequena caverna, apenas o suficientes para passar um corpo.

Ela entrou no espaço minúsculo torcendo para que ele não a ouvisse ou cheirasse, quando ela ouviu que ele estava passando pela entrada ela prendeu a respiração.

Seus olhos estavam grandes e vermelhos, o suor e escorria por seu corpo quando viu o corpo da besta passar por ela. Ele parou por segundos e então se foi.

Ela soltou um suspiro de alívio, soltando seu corpo do aperto encolhido que o havia confinado.

Mas estão antes que ela pudesse processar, uma garra apareceu na entrada da caverna e envolveu seu tornozelo a puxando para fora e a jogando para o outro lado.

Suas costas bateram em uma árvore e ela gritou de dor quando seu corpo atingiu o chão em um baque surdo.

Em meio ao embaraço que suas lágrimas causavam entre seus olhos ela viu o Hyde, seu corpo quebrando e encolhendo para voltar ao corpo de um homem.

Ela sentou e empurrou seu corpo flácido e machucado para trás, parando quando suas costas atingiram a árvore atrás dela.

Ela gemeu de dor e mais sentiu do que ouviu a risada perversa de Tyler a sua frente.

Uma figura vestida de preto e branco saiu de entre as árvores.

Sua expressão fria e estoica não revelando nada enquanto ela se aproximava do corpo da mulher machucada junto a árvore.

Tyler veio junto, dois passos atrás, como um cachorrinho adestrado apenas esperando um comando de sua dona para correr e se divertir rasgando e quebrando membros.

Laurel queria não estremecer, ela desejava não temer, mas mais ainda ela desejava não implorar por sua morte, por que a morte era um milhão de vezes melhor do que estar impotentemente nas mãos cruéis de Wandinha Addams.

- Você deveria saber melhor Thornhill. Eu não deixo meus brinquedos saírem pra brincar sem mim. – a voz monótona disse. - Tyler, acho que ela seria mais rápida se não tivesse um braço, por favor, tire-o dela para provar minha teoria.

Sua algoz foi para o lado enquanto seu companheiro se trasnformava denovo na besta.

Sua garganta já vibrava com os gritos enquanto a besta se aproximava do seu corpo.

Oh como ela desejava a morte...

***

Algo parecido com um sorriso se abriu no rosto de Wandinha enquanto ela observava Laurel se contorcer na cama.

Seu corpo moribundo estava fraco e prejudicado, a ferida em sua perna era horrenda e estava deixando o corpo de sua antiga professora muito debilitado para Wandinha poder brincar, mas por mais que ela adorasse a dor física ela ainda possuía um grande prazer sobre a tortura psicológica. E foi por isso que enquanto não pudesse se divertir torturando o corpo de Thornhill ela lhe deu ervas alucinógenas para mante-la em um estado de inconsciência onde ela poderia ser facilmente influenciada pelos sons ao seu redor.

Então Wandinha estava lendo para ela, não um livro qualquer, mas uma das cenas que ela havia pensado em fazer com Laurel e observar seu corpo inquieto apenas enquanto sonhava - um sonho muito real - com o que aconteceria.

A presença de Tyler alegre e inquieta foi o que a fez resolver fazer uma pausa na tortura psicológica.

Ele estava ancioso para comemorar seu "aniversário de namoro" com ela. Não que ela se importasse com essas meras trivialidades de relacionamentos, mas ela as vezes se via impotente sobre os pedidos dele, principalmente quando ao aceitar ele tinha aquele sorriso estúpido e charmoso em seu rosto.

𝘛𝘰𝘳𝘵𝘶𝘳𝘦 𝘚𝘰𝘮𝘣𝘳𝘦 _______ 𝑊𝑦𝑙𝑒𝑟Onde histórias criam vida. Descubra agora