A Cigana

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Lauren

Antes de sair do escritório, no final da tarde, Chris me chamou na sala dele. Contrariada, abri a porta, pois estava com pressa de ir para casa. Queria ver Camila, achei que ela me ligaria depois de ter recebido o cartão... Mas não.

Fiquei com receio do que ela me diria... Se havia entendido, qual seria sua resposta.

- Chris, tem que ser agora?

- Tem, Laur. O Dr. Afonso Martins acabou de ligar, ele precisa de um de nós amanhã à tarde em Balneário Camboriú. Ele está comprando um terreno, quer nossa avaliação e nossa opinião.

- Ah, por favor, Chris, me livra dessa.

- Laur... Eu não posso sair agora, sabe que preciso estar aqui nos próximos dois dias ou perdemos o negócio do shopping.

- Droga, Chris... E quem ele vai mandar da construtora? - perguntei, mas já sabia a resposta.

- A filha, óbvio - respondeu sem me olhar.

- Quer dizer que vou ter que viajar com Lucy?

Levantou o olhar da planilha e me olhou com reprovação.

- Lauren... Que eu saiba, é a única filha dele e não vejo problemas você viajar com ela, afinal... Sempre foram amigas... Não é? E, que eu saiba, são nossos melhores clientes, portanto vamos fazer aquilo que eles acharem melhor. Se ele quiser mandar o bispo junto... Nós acatamos.

Senti a ironia e a indignação dele com a situação, pois ele sempre me avisara sobre o erro que havia cometido em me relacionar de forma mais... Íntima... Com Lucy. Ou qualquer outra pessoa cujo vínculo fosse profissional.

Dizia sempre que, se a relação se rompesse, poderia influenciar nos negócios do escritório.

Respirei fundo.

- Tá certo, Chris, sem sermão. Eu vou. Mas vou de carro. Não quero ficar presa em nenhum aeroporto, principalmente no retorno no final de semana.

- Faça como achar melhor. Tem que estar lá no final da tarde. A viagem de Porto Alegre à Balneário não é longa. O problema é a estrada. Sabe que tem que ir cedo pra evitar a pressa, não é?

- Entendi - falei com ironia. - Mais alguma coisa?

- Sim. Ligue para Lucy para combinar. Vê se ela vai com você ou se prefere ir de outra forma e encontrar você lá.

Saí da sala dele furiosa. Só me faltava essa.

"Droga... Droga... Droga..."

- Alô? Lucy... É a Lauren, tudo bem?

- Oi...

- Estou ligando pra combinar com você a...

- Eu sei porque está ligando. Por que Chris não vai no seu lugar?

Silêncio.

- Ele não pode...

Fiquei completamente abalada com a forma como ela estava me tratando.

- Está certo. Encontro você lá então. Já reservei o hotel e mando o endereço por e-mail. Tchau.

Não deu tempo de responder. Fiquei com o aparelho na mão.

"Nossa... Que grossa".

Mas eu sabia que merecia.

Antes de sair do escritório, avisei Chris o que havia combinado com ela.

- Estou indo e amanhã não venho aqui. Viajo cedo.

- Certo, Laur, e por favor cuidado na estrada, tá? Me ligue quando chegar lá.