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Lauren

Sentia ela dentro de mim... Do meu corpo, da minha mente. Mostrava-me o caminho e eu o percorri sem medo. O calor que sentia não era mais do sol escaldante, mas do corpo dela. Colado ao meu, sentia seu cheiro. Sua pele.
Aos poucos, meu corpo ficou pesado e tentei me mover. Abri lentamente os olhos e a imagem dela se materializou ao meu lado. Os olhos fechados como se dormisse profundamente. Consegui aproximar meu rosto, meus lábios, tentei sentir sua respiração...

Mas não conseguia. Fiz uma força sobre-humana e levantei meu braço em direção ao seu rosto.

Toquei-a, as lágrimas vieram sem que eu evitasse... Tentei falar, a voz não saía... Minhas costas doíam. Tentei novamente:

- Camz...

Saiu baixo... Ela não se movia, não sentia sua respiração. Queria acordá-la, mas não conseguia.

Queria gritar, mas o grito não saía de minha garganta... Quase que por desespero, segurei forte seu braço e a sacudi com toda a força que eu tinha naquele momento. Como que por reflexo do meu gesto desesperado, ela respondeu com um suspiro profundo, encheu o pulmão de ar e abriu os olhos no mesmo instante. Ficou me olhando como se buscasse certificar-se de algo... Um sorriso se formou em meio às lágrimas que encheram seus olhos.

- Lo... - falou baixinho e me abraçou com força. Imediatamente senti a dor em minhas costas...

Um gemido anunciou a ela o gesto impensado, se afastou. E começou a me beijar no rosto, nos lábios, nos olhos. Choramos juntas por longo tempo, até que ela quebrou o silêncio:

- Eu também te amo.

Olhei para ela surpresa, pois lembrei que eu havia dito isso a ela, no meu sonho.

- Não... Não foi um sonho? - consegui pronunciar.

- Não, amor... Estivemos lá, juntas. Sabia onde você estava.

- Esperei você lá - falei com pesar.

- Esperei você aqui - respondeu.

- Mas o... O que aconteceu, como que... Que... Eu sentia você dentro de mim e ouvi... Você me chamar. - Estava confusa e minha voz falhava.

- Você me deixou entrar ...

Ela falou com calma. Olhei para ela e não conseguia entender como ela havia feito isso... Ela sorriu da minha expressão de incredulidade e me beijou suavemente nos lábios... Afastou-se o suficiente para dizer:

- Achei que você encontraria o caminho sozinha e voltaria, mas...

- Da próxima vez, me deixe um mapa - brinquei.

- Da próxima vez, vou segurar você assim. - Me abraçou. - Pra não perder você em lugar algum.

Ficamos em silêncio nos olhando por longos momentos... Observei nela o curativo acima do seio direito, bem próximo ao ombro, e comecei a lembrar dos episódios na casa dela.

- Isto em minhas costas, são... São...

- Sim... Você levou dois tiros nas costas.

- Lembro de você caindo... - Meus olhos se encheram novamente. - E...
Depois...

Não me deixou completar, colocou os dedos nos meus lábios:

- Shh... Não fala. Chega, passou... Vamos ter muito tempo pra falar sobre isso, agora você precisa relaxar, descansar.

- Meu corpo está... Está pesado, não consigo me mover e sinto dores.

- Eu sei... Eu sei, mas vai passar. Não chora - falou secando as lágrimas que caíam no meu rosto.

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