A Bruma

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A gente não escolhe quando e onde começa a ser afetado pela Bruma.

Dirigindo? É melhor encostar rapidamente, ou você pode acabar causando um engavetamento com cinquenta carros.

Trabalhando? Bata o ponto e corra para as montanhas, ou você e seu chefe podem acabar se tornando muito mais que colegas.

Quando me sentei pra jantar, rezei pra que a Bruma não me afetasse enquanto eu estava com a família - seria a pior situação possível, na minha opinião.

Enquanto ajudava a pôr a mesa e servia um prato de lasanha pra Lupin, olhava para a porta dos fundos pro caso de ter que fugir às pressas.

Eu me sentei para comer com a família toda, que já estava no meio de uma conversa animada.

"O que foi, Sírius?" -  perguntou minha mãe, acenando com a cabeça para o companheiro de meu irmão. "Você mal disse uma palavra desde que chegou. Como está o trabalho?".

"Não precisa responder, doutor" -  disse Lupin, lançando um olhar divertido para a mãe.

"Bom"- Sírius riu - "se está pedindo fofocas sobre nossos líderes, Esther, já sabe que não posso divulgar nenhuma informação."

"Nem mesmo um aceno com a cabeça confirmar ou negar?"

"Mãe" - disse Lex. - "Ele é a principal advogado da matilha. O trabalho dele é manter tudo em segredo."

"Mas..." - A mãe suspirou. - "Não preciso saber nada confidencial. Só papear mesmo. Por exemplo... É verdade que nossa Alfa e Bianca não estão mais juntas e que agora ela namora o Beta, Xavier?"

"Mãe" - dissemos eu e Lupin em uníssono.

Sírius sorriu. - "Tenho o direito de permanecer calado."

"Ah, mas vocês são muito sem graça mesmo."

A mulher parecia mais uma adolescente do que os dois filhos juntos. Mas a amávamos mais por isso. Na maior parte do tempo.

"Você podia perguntar sobre o meu trabalho." - disse Lupin.

"Eu perguntei, não foi?" - rebateu com a boca cheia de lasanha. - "Tenho certeza de que perguntei."

Lupin revirou os olhos. Nossa mãe sempre quis que ele seguisse uma carreira mais estável. Músico, pensava minha mãe, não era uma profissão. Era um hobby.

"Um dia uma coisa está em alta e na outra em baixa" - ela dizia. - "Isso serve pra música e pra toda a indústria, Lupin! Pense a longo prazo."

Bom, agora Lupin  era bem-sucedido, provando que os conselhos que recebeu da mãe por anos estavam errados, e estava trabalhando para uma das agências de música mais importantes da cidade.

Mas ele sempre deixou que os insultos de mamãe passassem batido. Em todos os níveis, ele era mais bonito, inteligente e bem-sucedido que eu.

Sempre que eu dizia isso em voz alta, o que fazia - com frequência - Lupin me dava um empurrãozinho suave e dizia: "Você ainda é jovem, Enid. Dê tempo ao tempo".

Mas com relação aos meus sonhos, à minha futura carreira como a maior artista do mundo, nunca fui paciente. Um dia, eu abriria minha própria galeria.

Um dia em breve, eu prometia a mim mesma. Não ligava para o que minha mãe dizia. Lupin era a prova de que ela não estava sempre certa sobre tudo.

"Tudo bem, mãe." -  disse Lupin, mudando de assunto. -  "Fofoca é mais interessante mesmo. Falando nisso..."

Lupin piscou para mim. Balancei a cabeça negativamente e com veemência. Não.

"Alguma ideia de quem será seu parceiro na temporada, Enid?"

Os Lobos do Milênio - Livro I - Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora