Surpreenda-me

Yasmin

Estava tentando dormir com a TV ligada, abafando os gemidos e tapas estalados que vinham do quarto ao lado, quando percebi que meu celular não parava de vibrar. Fui conferir e percebi que já tinha recebido mensagens de vários vizinhos, a senhora que mora no apartamento de cima já tinha perguntado se estávamos bem, pois não entendia se o baralho era sexo ou briga, o vizinho de baixo era meio nojento e perguntou se eu não queria fazer a mesma coisa que a minha prima. Mas o que mais me preocupou foi a síndica dizendo que se recebesse mais uma reclamação a gente ia pagar uma multa.
Levantei apressada e bati na porta de Agnes, avisei das reclamações e voltei para minha cama, não achei que ela se incomodaria com isso mas torci para ter atrapalhado o suficiente.
Estava quase dormindo quando mais um tapa ecoou pelo apartamento .
"GENTE! Pelo amor de Deus, VAI DORMIR! Vocês tão transando desde dez horas da noite! Isso não é saudável não galera." Disse o mais alto que conseguia. Ouvi risadas e depois o silêncio reinou no ambiente.
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Tinha acabado de acordar e estava esperando o café ficar pronto na cafeteria quando ouvi a voz masculina gritar do banheiro.
"Bebê, qual toalha eu posso usar? Tua prima tá com cara de vai me espancar se eu pegar a dela."
Ri mas neguei com a cabeça, sou bem menos mal humorada quando não tem ninguém gemendo enquanto eu tento dormir.
Agnes estava sempre falando do Léo e nós chegamos a nos falar algumas vezes quando eles faziam videochamadas. Eu não tenho nada contra ele, muito pelo contrário, uma vez ele e Agnes brigaram e ele mandou uma barca de sushi aqui para casa. Ele só não sabia que ela tinha ido dormir na casa da minha tia, mãe dela. Liguei para avisar e ela disse que eu podia comer. Nunca gostei tanto de um namorado da Agnes.
Ok, ela diz que não é namorado ainda mas tanto faz.
Léo saiu do banheiro direto para o quarto de Agnes e acredito que voltaram a transar, dessa vez tentando chamar menos atenção pois o único indício foi o ranger da cama.
"Meus amores agora onze da manhã pode fazer barulho! O que não podia era de madrugada né!" Gritei e acho que fui ouvida, alguns minutos depois gemidos ecoavam pelo apartamento mas não me incomodei, já estava de saída. No mais, eu faço de tudo para não ser hipócrita, também trago gente para casa e também gosto de ficar a vontade, só não gosto de pagar multa de convivência do condomínio.
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Já passava das seis da tarde, na TV passava uma série que nós já tínhamos visto várias vezes. Eu estava na casa da minha namorada, Clara.
Nós estávamos juntas desde os 15 anos e tínhamos um relacionamento aberto desde os 18, quatro anos depois permanecemos tranquilas com essa decisão.
Meu amor namorava mais duas pessoas: Anna, elas sempre terminavam e voltavam, mas ficavam fofinhas juntas. Noah, uma pessoa não-binária super tímida, só falou comigo umas 4 vezes em quase um ano, mas a clara ficava sempre tão feliz perto delu, o que me fazia simpatizar com elu automaticamente.
"Vida, sua prima tá me ligando. Aconteceu alguma coisa?" Clara perguntou um pouco confusa, ela dormiu no sofá e foi acordada pela Agnes ao telefone. Não falei nada mas peguei o celular de sua mão e atendi.
"Prima, olha o celular! Tô te ligando e tu não atende!"
Agnes parecia nervosa, então só concordei. Ela desligou e eu devolvi o aparelho a minha namorada, que já estava quase dormindo novamente.
Desbloqueei meu celular e vi mais de cinco chamadas perdidas de Agnes e várias mensagens.
"Yasmin, volta pra casa agora por favor é urgente"
Dizia a última mensagem. Me despedi de Clara e caminhei para casa o mais rápido que pude.
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"O que tá acontecendo?" Perguntei ofegante assim que passei pela porta da cozinha.
"Eu tô com fome!" Agnes gritou do outro lado do balcão.
"Sua vagabunda! Me fez sair correndo pela rua pra fazer comida? Vai se fuder, Agnes! Sua mimada do caralho" gritei de volta.
"Então você não vai me alimentar?" Perguntou manhosa.
"Eu vou né, fazer o que?" Respondi sem paciência. No geral nossa convivência era boa mas esse tipo de comportamento da Agnes me tirava do sério. Mas isso ainda era melhor do que ela tentar cozinhar.