Capítulo 3

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#ErosPipeDream

A casa de Lily era algo que Eros nunca achou que seria capaz de ver um dia; as paredes eram de um tom claro de azul — pareciam algodão-doce e, quando Eros tentou dizer isso a Lily, o mais velho riu e falou, "cale-se, criança". E, além das paredes estranhamente delicadas, havia ornamentos pelas janelas em um tom de dourado. O estofado das cadeiras do escritório que Lily o levou era uma mistura das cores verde e vermelha, e havia quadros enfeitando as paredes. Praticamente tudo tinha algum tipo de estampa pomposa.

"Bem, uau", foi tudo o que Eros foi capaz de dizer quando Lily abriu as portas duplas para o escritório. A parte mais encantadora de tudo era, é claro, as enormes janelas que iam do teto até o chão. "É... realmente lindo."

Talvez fosse a imaginação de Eros, mas Lily parecia ter um pequeno sorriso convencido nos lábios. "Obrigado." Então fez uma pausa para caminhar até a pequena mesa no meio da sala. Ele tirou algumas coisas de cima dela e as arrastou para o canto das paredes. O estrondo fez a nuca de Eros se arrepiar. "Qual posição você prefere?"

Ah, o adolescente de quinze anos interno dentro de Eros (que nunca tinha desaparecido de verdade, embora fizesse mais de uma década desde seus quinze anos) sentiu uma tremenda vontade de rir. "Acho que na frente da janela. A luz está boa. Se tivermos sorte, ficará assim até eu finalizar a pintura."

"Nunca confie na sorte", Lily murmurou, terminando de ajeitar a cadeira exatamente no lugar em que Eros tinha apontado. "Ela sempre nos decepciona."

"Que forma triste de ver a vida."

Uma risada amargurada encheu o ambiente. Eros tirou os olhos da janela e observou Lily, o homem estava tirando o chapéu e o sobretudo. Logo em seguida, afrouxou a gravata e massageou o pescoço, como se todas aquelas roupas estivessem o sufocando.

A luz estava de fato muito bela. Eros teve a repentina sensação de que nunca se esqueceria daquele lugar. Desde muito cedo, Eros percebia que algumas sensações, lugares, cheiros, nunca saíam de fato do seu cérebro. Uma vez, ele se lembra de estar na sala de aula, com o coração acelerado. Tinha feito algo arriscado: confessado o seu amor por uma garota. E, embora ele tenha sido rejeitado, havia algo caóticamente lindo na bagunça das carteiras, em como as enormes janelas deixavam a luz do Sol passar, bem como o pó que subia toda vez que ele se mexia refletia sobre a luz.

Ele foi rejeitado naquele dia, mas também foi um dos melhores momentos da vida dele. Foi como se a vida entrasse em suas veias, como se aquela fosse ser uma das mais importantes lembranças de quando ele estiver na beira da morte e tiver que se lembrar de algo.

De repente, ele sentiu o cheiro das roupas de Lily. Eros leu em algum site da internet que o cheiro é um dos cinco sentidos mais fortes para despertar uma lembrança. Ele sente o cheiro cítrico, quase azedo como dar uma lambida em um limão. É totalmente diferente daquela vez que ele se confessou para a garota, mas, ainda sim, estranhamente parecido. Mais intenso. Eros sabe que irá lembrar desse momento até seu último suspiro.

Merda, o rosto dele acabou de corar?!

"Hoffner?" A voz de Lily o arrastou para a realidade. Ele precisou piscar várias vezes para se lembrar de onde estava. "Tudo bem?"

"Sim." Ele forçou um sorriso. "Acabei divagando. O que você disse?"

"Pode arrumar suas coisas." Lily apontou com o queixo para o cavalete, que ele mesmo havia comprado mais cedo, no canto do quarto. Eros assentiu, mantendo o sorriso — embora ele estivesse sentindo as próprias entranhas se revirando — e ajeitou os materiais.

Primeiro usou as três cores primárias, amarelo, vermelho e azul, para fazer cores secundárias e depois terciárias. Organizou os pincéis que Lily tinha lhe dado e colocou metade das coisas necessárias no suporte do cavalete e o restante na mesinha ao seu lado.

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