EROS [⚣]

Capítulo 4

#ErosLançamento

Depois daquela primeira vez pintando Lily, Eros nunca mais parou. Mas, ao invés de continuar rascunhando o rosto do homem obsessivamente, ele começou a desenhar, como tinha planejado, os arranha-céus de Nova York, carros que agora pareciam estranhamente modernos e, é claro, roupas.

Desenhar coisas pela memória era mais difícil do que parecia. Vez ou outra ele se via procurando pelo celular, desesperado para encontrar uma referência que o fizesse encontrar e arrumar os erros que o incomodavam no rascunho, até se lembrar que a internet estava longe de ser criada.

Eros passou dois dias enchendo páginas de cadernos que achava pelo quarto. Em certo ponto desses dias, teve que pedir para Percy acompanhá-lo até o centro, para comprar mais folhas e um pedaço de carvão novo.

"Não sabia que você era artista", Percy disse, estendendo mais uma peça de roupa no varal. Eros sentiu um dejá-vù arrepiar suas costas, lembrando-se da primeira conversa que teve com Lily. Isso significava que ele estava neste universo... a uma semana inteira! Uma semana em que ele não havia feito nada além de desenhar repetidamente. "Talvez eu possa ir sozinho. Você mal se recuperou do seu resfriado."

Eros se escondeu atrás de um lençol que voava com o vento forte, segurando um cesto de grampos para ajudar Percy. Desde o dia em que ficou gripado, o jovem começou a se tornar uma companhia agradável e desejada. "Estou melhor. Você cuidou bem de mim."

O rapaz tentou disfarçar o sorriso, mas Eros viu como o canto de seus lábios levantaram. Ele havia descoberto nesse meio tempo muitas coisas sobre Percy: a primeira era que ele era o único filho homem em uma casa com sete irmãs. Ele contou todas as terríveis e constrangedoras situações que já teve que passar com elas; muitas vezes, as garotas usavam ele e sua pobre gentileza para serem apresentadas para rapazes.

Percy saiu de casa há dois anos e quase no mesmo período começou a trabalhar na casa dos Hoffner. Quando Eros o perguntou se seus pais não achariam ruim dele ter saído de casa para se tornar empregado, respondeu simplesmente: "Não. Minhas irmãs não queriam trabalhar e, sinceramente, eu não era o preferido de nenhum dos meus pais. Então conheci Jane e me apaixonei. Meus pais não aprovaram nosso relacionamento, porque, bem, esperavam que pelo menos o filho deles fosse capaz de se casar com uma jovem rica. Então decidimos em conjunto que eu viria para Shark City. Para eles, esse tempo que estou passando aqui é necessário para esquecer Jane."

Foi como se uma flecha o atingisse no peito quando ouviu aquelas palavras. Ele nunca saberia dessas pequenas histórias apenas lendo Um Cavalheiro para Uma Dama. O livro girava em torno de Emma e sua paixão sobre Lily. Quase nenhum outro personagem foi desenvolvido para Eros descobrir um pouco sobre seu passado. Saber de coisas que o restante dos leitores não sabiam era revigorante.

"Irei com você, se prometer me mostrar algumas das suas pinturas."

Eros sorriu em resposta, estendendo outro grampo. "É claro."

Eles partiram depois de terminarem de estender as roupas. Edwin perguntou se gostariam de uma carona, mas Eros dispensou, dizendo que aproveitaria o Ssol para uma caminhada. Ele nunca fazia isso no seu mundo normal. Era estressante sair de casa, mesmo que fosse para ir comprar um copo de café do Starbucks na esquina ao lado. Aqui, não.

"Me perdoe a indelicadeza e se isso te ofender de alguma forma, não precisa responder, mas não consigo mais aguentar minha curiosidade: o que são aquelas coisas nas suas pinturas?", Percy perguntou quando começaram a se aproximar do centro. Antes de saírem, Eros tinha lhe mostrado uma de suas pinturas finalizadas: era o Empire State.

Talvez por não ter nascido nos Estados Unidos, sendo natural da Alemanha — embora tenha morado boa parte de sua vida em Phoenix, no Arizona, por causa do trabalho de Coraline — Eros sempre foi fascinado com Nova York. Algumas pessoas diziam que a cidade, na verdade, não era tudo aquilo de magnífico, e talvez fosse verdade, mas a ideia de liberdade e oportunidades que aquele local parecia ter era eletrizante. Eros fantasiava dolorosamente com o momento em que poderia ir até lá algum dia.