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A rotina de um dia em casa outro no trabalho deveria ser leve se não fosse completamente injusta, os dias em que ficava em casa eram tão curtos, mal os via passar e de novo estava se lamentando por mais um dia no Necrotério Ikete. Estranhava quando estava tão cheio, geralmente o transporte que levava os corpos embora não se atrasava, e a cidade não era tão violenta pra haver tantas mortes de uma vez, seria trabalho em dobro.

Dois corpos estavam chamando sua atenção naquele dia, tinham o mesmo sobrenome, um era uma criança e outro um adulto que se destacava por um ter um carimbo da polícia em sua ficha. Nenhum seria encaminhado pra estudos, ou teriam os órgãos doados, a função de Namjoon com aqueles dois era dizer a causa da morte e colocá-los na mesma maca ao fim do processo. As regras estavam claras que independente se fossem queimados ou enterrados, ficariam juntos.

– Isso é tão bonito, por mais que seja estranho querer apodrecer com alguém de sua família, é bonito que fiquem juntos pra sempre.

Não soube controlar sua grosseria, precisava treinar comunicação. Puxar assunto pra construir uma conversa com aqueles cadáveres não estava sendo tão fácil, não tinha recebido nem um obrigado.

– Jimin - disse ao ler o nome na etiqueta do corpo do adulto, decidiu focar nele por conta de terem uma idade semelhante, mentalidades parecidas rendiam mais conversa - Não sou religioso, mas assumo que você vai pra algum lugar não é? Hoseok também, talvez vocês não se conheçam, ele é um amigo recente meu. Vocês possivelmente vão se encontrar, eu estava contando uma história a ele. Não gostaria de saber o resto pra contar a ele?

Mirar no mais velho não foi a tática correta, Jimin pareceu ainda mais indiferente ainda ao saber de uma história. Será que não gostava de Hoseok? Bem, sua sorte foi que a criança ao lado se mostrou interessada com seus olhinhos brilhantes de curiosidade. Não planejava amenizar pra se enquadrar a uma faixa etária adequada, pelo menos estava com um familiar ao lado pra lhe explicar depois.

– É estranho minha necessidade de falar, eu nunca tive vontade de me confessar nesses dois anos - respirava fundo pra reunir coragem necessária, se tratava de algo tão sério - Porém sinto que vou explodir se não contar sobre minha desconfiança com a doença de Yoongi, as vezes eu acho que ele só finge.

Precisaria explicar muita coisa pra falar de sua suspeita. Era a única pessoa que podia pensar algo assim, afinal estudou profundamente Yoongi, e fez muitas coisas erradas até cogitar tal ideia.

Gostava de estabelecer como ponto inicial as entrevistas com os responsáveis de Yoongi. Essa era uma etapa imprescindível pra que trabalhasse como psicólogo, cargo esse que não pensaram duas vezes antes de deixar Namjoon assumir. Pediu que fossem completamente sinceros em relação ao comportamento do filho, passou horas ouvindo sobre os atos mais simples até crises de desobediência. Um fato engraçado era que tinha anotado tudo que foi dito, e em sua vida de casado não presenciou quase nada além de momentos que ignorava tudo ao seu redor. O momento marcante foi quando fez o questionário a esposa.

– Será que você vai ter que fingir que sou Yoongi pra você me dar atenção? - no horário que estavam, nem Jieun tinha disposição pra continuar a falar sobre procedimentos psicológicos. Estava carente, gostaria de passar um tempo com o marido sem que o sobrinho fosse tema principal da conversa.

O comentário da mulher chamou a atenção de Namjoon, se acompanharia um jovem de dezoito anos o desenvolvimento sexual logo seria uma pauta importante. Como reagiria? Enquanto Jieun retirava sua lingerie e se sentava em seu colo tentou imaginar Yoongi no lugar, a imagem não durou três segundos em sua cabeça. Não era capaz de imagina-lo naquela situação, pois além de parecer algo impossível, não tinha criatividade ou desejo ao montar uma cena assim. O mesmo cérebro que se negava no início depois passou a criar fantasias eróticas com cada fetiche existente.

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