Vida

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"All that I did to try to undo it, all of my pain and all your excuses"  

 As mãos de Kim estão tremendo enquanto ele segura o volante com mais força do que o necessário, tentando controlar sua respiração irregular. Ele estava dirigindo de volta para seu prédio agora que garantiu que Chay está fora de perigo, mas a adrenalina da luta ainda estava incendiando suas veias. Manter os olhos na estrada estava exigindo toda a sua concentração, uma dor quase física possuindo seus músculos enquanto ele lutava contra a vontade de virar o carro e voltar para Chay.

Ele ainda está lutando contra si mesmo quando seu telefone toca, o nome de Kinn aparecendo na tela. Ele se sente aliviado ao saber que Kinn está vivo e bem o suficiente para fazer uma ligação, apesar de não querer falar com ninguém no momento. Ele força sua respiração a se estabilizar antes de atender, não querendo que Kinn pense que ele está desmoronando, mesmo que seja verdade.

"Ei." Ele diz, tentando imaginar o que seu irmão poderia querer dele. Kim esperava chegar em casa o mais rápido possível para que pudesse ignorar o quão horrível ele se sentia deixando Chay para trás naquele bar, sem ter coragem de dizer nada para ele, mesmo que tivesse acabado de matar vários homens armados para protegê-lo.

Ele não acha que Chay poderia entender como esse tipo de violência significava que Kim se importava com ele mais do que com qualquer outra coisa na Terra. Ele não foi criado do jeito que Kim e seus irmãos foram, ele não foi ensinado que amar significava estar disposto a queimar o mundo inteiro por alguém. Só que Chay não queria isso. Ele não era o tipo de pessoa que pediria essas coisas e é por isso que ele era muito mais do que Kim merecia.

É também por isso que ele estava correndo de volta para casa, para ficar sozinho, para não machucar mais ninguém.

"Ei, eu preciso falar com você. Você pode voltar pra casa, por favor?" Kinn pede, soando exausto. Há uma rouquidão em sua voz, como se ele tivesse passado horas gritando a plenos pulmões, o que era de se esperar, considerando que ele acabou de enfrentar uma guerra em sua própria casa. Metade de Kim deseja verificar se Kinn está realmente bem com seus próprios olhos, mas ele não sabe se conseguirá lidar com a atmosfera de luto que deve ter tomado conta do lugar desde a morte de seu pai, não depois de mal ter sobrevivido à primeira vez que isso aconteceu com a morte da mãe deles.

Ele bufa, cansado até o âmago, os ossos doendo e a mente em branco depois da luta que ele suportou hoje cedo, "Não pode esperar até amanhã?"

Kinn suspira do outro lado da linha e Kim quase consegue evocar a imagem de seu irmão revirando os olhos: "O pai está vivo".

Claro que ele está.

Há uma longa pausa antes de ele desistir e dizer: "Estarei aí em 10 minutos". Kim encerra a ligação logo em seguida e faz uma curva fechada com seu carro.

Ele está furioso por ter ficado preso na teia de mentiras de seu pai novamente, mas também não está surpreso ao ouvir isso, não de verdade. Desde que soube da notícia, algo parecia estranho em toda a situação, desde o médico não permitindo que eles vissem o corpo até o semblante suspeito de Chan.

Chan, que agora estava morto. O homem que os ensinou a lutar, atirar e ferir, mas que também remendou suas feridas e sussurrou encorajamentos, que morreu protegendo-os. Ele se pergunta se seu pai sequer se importa que seu soldado mais fiel foi morto porque Korn decidiu causar uma guerra. Ele se pergunta se a culpa já passou por sua cabeça, do jeito que passa pela de Kim o tempo todo.

Ele dirige de volta para a casa da qual fugiu durante toda a sua vida e torce para não ser engolido novamente.


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