Parte III

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A sombra permanecia imóvel ao pé da gruta. Os observando poucos metros do lado de fora da gruta.

— Quem é você? — Otto perguntou em um tom que saiu mais agressivo do que ele gostaria.

— Calma aí, Otto. — Kai falou, depois se voltou para a sombra. Gaguejou um pouco até conseguir dizer uma dúzia de palavras — Olá, sou Kai. Também gosta de fazer caminhadas a noite, na floresta?— perguntou tentando sorrir, quando o que mais queria e sair gritando.

Otto olhou para ele sem acreditar no que estava ouvindo, como quem pergunta "Sério?".

A "sombra" permaneceu inabalável, plantada no chão. Sem dizer uma palavra.

Nesse momento as lanternas se apagaram todas misteriosamente. Os deixando na mais completa escuridão. Apenas o luar lhes entregava uma breve claridade.

— É, pessoal? Acho que essa é a parte que a gente grita e saí correndo. — Kai falou, sem desviar os olhos do ser.

O trio de garotos correram o mais rápido que seus pés lhes permitiam. Passando por cima das folhas secas espelhadas pelo chão, quase voando. Quando haviam passado do rio, pararam.

— Droga! Onde está o Otto? — olharam ao redor preocupados, percebendo tarde de mais que ele não estava entre eles.

Sem pensar duas vezes, voltaram pelo mesmo caminho que haviam feito minutos antes.

Otto estava estirado no chão, havia acabado de cair. Tropeçara na raiz de uma árvore e agora procurava desesperadamente pelos óculos que haviam saltado de rosto. Tateando todos os cantos no chão. De repente sentiu um arrepio, que o fez parar. Ele olhou em volta tentando em vão enxergar alguma coisa. Voltou a procurar os óculos, e quando finalmente achou, soltou um suspiro de alívio. Ao mesmo tempo em que amaldiçoava Kai mentalmente.

Ainda no chão, levou seus óculos até o rosto. Um grito cortou o ar. Ressoando em todos os cantos da floresta. Assustando passarinhos que dormiam sossegados em seus galhos e pondo em alerta dois garotos que procuravam desesperados por seu amigo.

— É a voz dele, vamos! — Raoni gritou correndo em direção a voz.

Quando chegaram, viram a criatura iluminada pela luz do luar. Um homem bastante magro. Seu corpo quase parecia ser composto apenas por ossos. Ele fitou os dois rapazes rapidamente pelo canto do olho, com um sorriso macabro no rosto, enquanto segurava as pernas do outro com as mãos; que tentava de todas as maneiras se desvencilhar dele. Tudo que conseguiu foram arranhões pelas suas pernas, feitas pelas enormes unhas do monstro.

Ao verem a cena os meninos não perderam um segundo. Correram em direção ao amigo. Kai puxava Otto pelos braços e Raoni dava chutes nos braços e pela região do tórax do corpo seco. Tentando fazer ele se soltar.

Raoni se irritou e chutou o crânio do corpo seco com toda a força que tinha em seus pés. O mostro se separou, soltando um longo gemido de dor.

Dentro de cinco segundos os três amigos estavam correndo novamente, desesperados. Kai corria logo atrás dos outros, receando perder um deles de vista novamente.

O ser limitou- se a segui-los com um olhar vazio.

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A LENDA DO CORPO SECO | CONTO Onde histórias criam vida. Descubra agora