Eloise

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     Ela tirou tudo de mim. Meu lar, meus poderes, minha dignidade, minha família e até mesmo a possibilidade de formar outra. Graças a ela hoje sou uma mulher órfã, estéril, sombria e infeliz. Ela tirou tudo que eu mais amava, e eu não mediria esforços para fazer o mesmo àquela rainhazinha medíocre!

     Eu morava em Calixto com meus pais, Rei Edward e Rainha Mariana, e meu irmão, Príncipe Philip. Éramos felizes e nosso reino vivia em paz. Até que, um dia, invasores vindos do reino caído de Illuminum começaram a atacar os vilarejos e as cidades, matando todos e destruindo tudo que encontravam no caminho. Meus pais não conseguiram detê-los, e tivemos que fugir. Eles tomaram o poder de Calixto e nós vagamos de planeta em planeta até encontrar refúgio em Élion.

     A antiga monarca de lá nos recebeu muito bem. Ela foi notificada por emissários de que Calixto havia sido tomada e que a família real estava desalojada. A Rainha Vitória era a Senhora da Luz da época, e carregava esse cargo com muita responsabilidade, bondade e sabedoria. Durante o seu governo, vivemos em paz e tranquilidade. Mas, assim como todos morrerão um dia, infelizmente a querida Rainha Vitória também morreu, alguns anos depois de nossa chegada.

     Durante todos os anos que minha família viveu em Élion, nunca percebemos a tamanha grandeza e a importância da Rainha como no dia da sua morte. Vieram seres de todos os cantos do Espaço para velá-la. Ela tinha cumprido a sua função, sendo a maior Senhora da Luz que o Universo já teve.

     No entanto, ela não deixou herdeiros, pois seu marido, Rei Edmond, morreu muito cedo, e ela nunca mais se casou depois de sua morte. Élion estava sem um governante e o cargo supremo da luz no Universo estava desocupado. Com isso, o povo decidiu elevar ao trono a Princesa Leah, uma moça de Illuminum que foi salva por Vitória juntamente com sua mãe, Marly, antes do planeta ser destruído. A Rainha se afeiçoou de tal forma à garota que a tratava como filha.

     Queria que ela permanecesse a menininha doce e meiga que era durante a vida de Vitória, mas, para minha tristeza e de todos os paladiuns de Élion, não foi assim que aconteceu. Ela ascendeu ao trono aos 25 anos de idade, e de início, pareceu ser boa. Mas, de uma hora para outra, ela e meus pais estavam travando uma guerra entre si. Não faço ideia de como aconteceu, mas aconteceu. Ela os matou, e disse ao povo que eles a atacaram. Amedrontou os ranemirus elionitas, dizendo que os paladiuns tramavam contra eles, e os filhos da própria sabedoria se fizeram tolos, crendo em suas palavras mentirosas. Foi nesse momento que fomos exilados, condenados a passar o resto de nossas vidas longe de nossa terra.

     Por muitos anos vivi com a esperança de reencontrar a felicidade, mesmo com as lembranças da minha antiga vida me atormentando todos os dias. Eu perdi tudo. Não tinha mais razão para viver! Pensei várias vezes em desistir de tudo de uma vez por todas, mas quando finalmente decidi acabar com a minha vida, os deuses se compadeceram de mim, e me enviaram um presente: Tim.

     Estava eu chorando, encolhida em um salgueiro, quando ouvi um choro mais alto que o meu. Um choro diferente do que os exilados choravam com saudade do lar. Um choro inocente, de alguém que nunca viu maldade. Quando me virei, encontrei o pequeno dentro de um cesto, enrolado em cobertores, com uma carta sobre si. Enxuguei minhas lágrimas, e peguei a carta. Nela estava escrito o seguinte:

"A quem encontrar este tesouro,

     Este é Timothy Cellest, minha joia mais preciosa. Ladrões querem roubá-la de mim, por isso estou escondendo-a. Por favor, cuide bem dele. Dentre as pedras preciosas, o diamante é a mais resistente. Mas este ainda não foi lapidado, portanto pode ser facilmente manipulado.

     Diz-se em Élion que a esperança é a última que morre. E é verdade. Estou enviando essa doce criança com a esperança de algum dia poder reencontrá-la. E esperarei até meus últimos dias!

Com aperto no coração, mas com esperança, M. Cellest"

     Uma criança de Élion! Quase não acreditei. Peguei o menino no colo, e as lágrimas começaram a rolar de meus olhos. No mesmo instante ele se acalmou. No mesmo instante ele sorriu. No mesmo instante, eu soube que era meu.

     Eu o adotei. Minha esperança havia voltado, meus olhos brilhavam, meu coração sorriu. Eu era mãe! A partir daquele momento, encontrei uma razão para minha vida, um motivo pelo qual lutaria até minhas últimas forças se esgotarem!

Sombra & Luz: o elo entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora