Leah

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Leah, Rainha de Élion! Esse nome soa tão bem, não é mesmo? A designada a passar a vida submetida a todos é agora referida como Sua Majestade! A primeira ranemirus a romper os limites impostos pelos deuses ancestrais e alcançar os dois Dons de Equilíbrio! Contudo, devo dizer que chegar onde cheguei não foi fácil e demanda muito esforço, resiliência, paciência e outros atributos que não são encontrados em qualquer um.

Minha história se inicia em Illuminum, a Terra dos Conhecimentos Universais. Diferentemente dos outros planetas, Illuminum não era governado por paladiuns, mas era um dos únicos no Universo com regência ranemirusiense absoluta. Minha terra natal era linda, com casas brancas em estilo clássico, se assemelhando a pequenos templos. Os humanos e a natureza viviam de forma harmoniosa, pois os illuminianos respeitavam a fauna e a flora. Tudo era milimetricamente calculado para que não agredisse o meio ambiente.

Com isso, nossa civilização desenvolveu-se, principalmente, no subsolo. Os habitantes comuns e pequenos comerciantes viviam na superfície, mas os mais poderosos entre o povo e todas as grandes instituições se localizavam abaixo dela. Os ambientes subterrâneos eram movimentados, como uma cidade que nunca dorme. Uma complexa rede de túneis interligava um lugar a outro. Espelhos refletores traziam a iluminação terrestre das escarpas, e a luz se espalhava pela metrópole subtérrea, revelando a monotonia das cores da cidade, que variavam entre o marrom-acobreado e o cinza fosco.

Nascida de família simples e sem um pai, fui criada por minha mãe, Marly. Ela era uma pequena vendedora de grãos, que ela mesma cultivava e colhia, em terras licenciadas pelo governo. Herança dos meus avós. Todos os anos ela ia à cidade subterrânea para vender mercadorias e pagar as dívidas das nossas terras.

Com doze anos, minha mãe me colocou numa escola. O sistema de ensino illuminiano era um dos melhores do Universo, com excelência reconhecida por todos os reinos vizinhos. As maiores escolas atendiam, inclusive, estrangeiros, tanto ranemirus quanto paladiuns. A educação illuminiana focava na formação intelectual de seus estudantes, coisa essa que devia ser desenvolvida por todos os povos e classes. "O conhecimento deve ser universal, pois guerras podem ser vencidas pelo raciocínio, como podem ser totalmente erradicadas por ele" era o lema educacional.

No entanto, toda essa grandiosidade acadêmica exigia rigidez e total entrega dos estudantes. Para estudar, seria necessário que os alunos vivessem nas dependências do colégio. Eu não queria viver longe de minha mãe e poder vê-la somente uma vez por ano, mas, para minha infelicidade, não tive escolha. "Para não ter uma vida sofrida igual a minha", dizia ela sempre, "estude, querida Leah. Garanta o seu futuro. Alcance aquilo que eu não consegui alcançar."

Eu chorava todos os dias, com raiva por minha mãe ter me deixado ali, e com saudades da superfície, do céu, do meu lar... e daquela que me gerou. Eu carregava um colar com um pingente de cristal azul que ganhei de minha mãe quando pequena, e sempre que olhava para ele, me entristecia, pois ele me lembrava da vida que eu perdi. Por isso, acabei desprezando-o, e o guardei para evitar meu sofrimento.

Sempre que minha mãe vinha para a metrópole, notificava a escola, e enfim eu podia aproveitar o dia todo com ela. Era pouco, e justamente por isso eu desejava viver cada momento. Com catorze anos, no entanto, quando minha mãe veio para o subsolo, não fazia ideia de que seria a última vez que ela me visitaria.

Como de costume, fui ao dormitório me arrumar. Encontrei minha mãe no pátio do colégio, me aguardando. Fui recebida com um abraço caloroso que não sentia a exatamente um ano. Fomos a alguns lugares, até que chegamos à Casa do Tesouro, onde minha mãe quitaria as dívidas anuais de nossa propriedade. Porém, ela não conseguira obter todo o dinheiro necessário, e estava tentando negociar de alguma forma. Mas o tesoureiro foi duro e irredutível, dizendo que se minha mãe não pagasse o devido valor até o fim do dia, nossas terras seriam tomadas.

Eu, já enraivecida com a situação, tomei a frente e falei:

- Por algum acaso, senhor tesoureiro, o senhor é um ranemirus? - Ele respondeu que sim - Então por que não age com sabedoria e compreende a situação da minha mãe?

- Ora, sua...!

- Como pode um filho da própria sabedoria deixar de lado seu maior dom? O senhor deveria não só cobrar as dívidas do povo, mas saber que existem ricos que pagam um tostão de sua riqueza e pobres que dão a vida para conseguir comer!

Todos ao redor se espantaram. Criticar o sistema perfeito do planeta perfeito era praticamente um tabu. Um tabu que eu quebrei. E como as notícias se espalham rápido, logo minhas palavras chegaram aos ouvidos do rei. No mesmo dia, eu e minha mãe fomos convocadas ao palácio.

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2022 ⏰

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