Provocações sinceras

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 Júlia estava na cozinha, preparando um simples jantar, tentando acalmar os nervos antes do encontro com a banda à noite. A ansiedade ainda a consumia, mas ela sabia que aquilo poderia ser um ponto de virada. Enquanto mexia na panela, o som da campainha a fez parar por um momento. Ela sabia exatamente quem era.

Com um suspiro pesado, ela caminhou até a porta, respirando fundo para manter a compostura. Ao abrir, se deparou com o Senhor Bahiense, que a olhou de maneira impassível. Ela o deixou entrar, sentindo o estômago revirar de apreensão, mas também com uma sensação de determinação. A conversa que estava por vir não seria fácil, mas ela sabia que tinha que enfrentá-la.

— Boa noite, Júlia. — A voz dele era direta e fria. — Só vim avisar que domingo será o último dia para você pagar o aluguel atrasado. Se não quitar o valor, suas coisas estarão na rua.

Aquelas palavras caíram como um peso sobre ela, mas Júlia se manteve firme, não permitindo que o medo tomasse conta.

— Eu sei, Senhor Bahiense. E, com todo o respeito, quero pedir uma oportunidade para explicar. — Ela se virou, tentando manter a calma. — Eu vou sair da lanchonete em breve, se tudo der certo. Eu estou fazendo o meu melhor para resolver tudo isso.

O Senhor Bahiense arqueou uma sobrancelha, visivelmente cético.

— Saindo da lanchonete, é? E como pretende resolver a dívida do aluguel, então?

Júlia respirou fundo, sua voz mais firme agora.

— Se tudo correr bem, eu conseguirei quitar 5 meses dos 8 meses de aluguel que estão atrasados. Eu sei que não é o total, mas seria possível para eu ficar aqui. Depois, em um mês, consigo o restante dos 3 meses e, com isso, a dívida será quitada. Eu não precisarei sair e poderei manter o apartamento.

Ele a observou por alguns segundos, avaliando o que ela dissera. A tensão no ar era palpável, mas Júlia não deixou de encará-lo nos olhos, sem demonstrar fraqueza.

— Você sabe que não costumo aceitar parcelamentos ou promessas, Júlia. Se não pagar até domingo, o apartamento vai para outro inquilino. — Ele deu um passo em direção à porta, mas antes de sair, lançou um olhar indiferente para ela. — Mas, por enquanto, vou esperar até domingo para ver o que você consegue. Não se esqueça de que você tem até o final de semana. Caso contrário, vai ter que procurar outro lugar para morar.

Júlia sentiu o alívio e o peso ao mesmo tempo. Ele ainda estava oferecendo um prazo, mas ela sabia que o tempo estava se esgotando. O Senhor Bahiense virou-se para sair, e, antes que ele alcançasse a porta, ela falou novamente.

— Senhor Bahiense, por favor, me dê essa chance. Eu realmente estou fazendo o possível para resolver tudo.

Ele apenas fez um gesto com a mão, como se já tivesse ouvido o suficiente.

— Não é uma questão de querer ou não, Júlia. É uma questão de você cumprir com o que deve. Agora, me deixe em paz. — E com isso, ele saiu, deixando Júlia sozinha com seus pensamentos.

Ela ficou parada por alguns segundos, digerindo tudo o que ele tinha dito. O medo de perder o apartamento ainda a rondava, mas a determinação de fazer o que fosse necessário a impulsionava. O que estava por vir na noite com a banda poderia ser a chave para sua libertação, e ela estava disposta a fazer de tudo para que isso acontecesse.

Enquanto voltava para a cozinha, ela olhou para o fogão e, de repente, o jantar parecia menos importante. O que realmente importava era que ela tivesse sucesso nessa nova oportunidade, para que pudesse garantir o seu futuro, pagar suas dívidas e seguir em frente. Júlia chegou ao bar, o lugar ainda meio vazio, com a iluminação suave e o palco montado para o ensaio. O nervosismo a tomou de novo, mas ela respirou fundo e seguiu em direção ao palco, onde Jonathan a esperava, com um sorriso acolhedor. Ela podia sentir a vibração do som da bateria e da guitarra, o que a fez se sentir ainda mais tensa.

Por Acaso AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora