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Solto um grunhido raivoso e desmancho a trança para tentar fazer de novo.

Eu estava no dormitório da Enid e da Wandinha. Estávamos nos arrumando para o festival. Quer dizer, Yoko e Enid estavam se arrumando, elas trocavam roupas e como eu vestia um manequim maior do que as meninas, eu me arrumei antes de vir, enquanto Wandinha resolveu não sair do preto e branco costumeiro.

Enquanto elas se arrumavam eu tentava fazer tranças no meu cabelo. Eu sentia falta das tranças estilo viking que eu vivia usando, mas era meu pai que sempre as fazia em mim e acabei descobrindo que sou uma completa negação nesse quesito, mesmo seguindo um tutorial.

Solto outro grunhido frustrado e volto a desmanchar o que era para ser um trança raiz.

Meu cabelo estava todo arrepiado e duro por conta do gel. Já estava prestes a desistir e ir para o meu dormitório e tentar dar um jeito de pôr meus cachos no lugar, quando de repente sinto duas mãos gélidas no meu couro cabeludo.

Olho para Wandinha através do espelho e fico um pouco confusa. Ela por outro lado não fala nada nem olha para mim, apenas pega o gel da minha mão e começa a mexer no meu cabelo.

Ela parece saber o que está fazendo, e eu não ouso nem me mexer.

Wandinha fez três tranças nas laterais da minha cabeça e no "moicano" que se formou, ela fez outra trança deixando metade dela solta para se juntar com o resto do cabelo, e no fim ela decorou com os acessórios de metal que eu trouxe.

-Ficou lindo!- exclamei contente, admirando o resultado.- Muito obrigada.

Sua expressão robótica nem se mexe, mas o aceno leve de cabeça deixou transparecer um sentimento.

-Isso foi tão legal!- olhamos para Enid que gritava animada.- nós quatro, nos arrumando juntas, até tirei uma foto!

Enid vem saltitando até nós e mostra seu celular. Era uma foto onde aparecia ela e Yoko segurando cabides com roupas e no fundo eu sentada no chão com Wandinha ajoelhada atrás de mim fazendo meu cabelo.

Wandinha olha aquilo e solta um suspiro zangado, mas não pede para apagar a foto e eu vejo isso como um avanço.

-Me manda?- Peço após olhar a foto que tinha ficado muito boa.

Ouvimos uma batida na porta e olhamos em direção ao som encontrando a Thornhill sorridente com metade do corpo para dentro do quarto.

-Meninas, se apressem, o ônibus chegou.- alerta rapidamente, e saiu para fazer o mesmo nos outros dormitórios.

Nós quatro pegamos nossas coisas e saímos do quarto indo para fora da escola.

Tinha esquecido meu celular no meu dormitório, o que era uma pena porque meus primos viviam pedindo para mostrar fotos para eles e eu nunca tinha nada, o festival parecia ser o lugar perfeito para fotos.

Hoje aconteceria a tal fuga da Wandinha, Enid não estava muito feliz com isso e eu sentiria falta da presença da gótica psicopata.

-Acha que dá pra confiar nesse padrãozinho?- Enid questiona enquanto analisamos o garoto que parecia discutir com o pai.

-É, olha pra ele… tão… normal.- Murmuro o medindo de cima a baixo.- mas é bonito.- digo e recebo um olhar das duas garotas.- que foi? Olhos servem pra olhar, não é?

Wandinha revira os olhos para mim e nos encara.

-Eu confio que vou saber me virar.- diz confiante.

-Bom, boa sorte, e boa viagem.- Enid tenta a abraçar mas ela se afasta.- ainda não curte abraços, tô ligada.- diz acenando em despedida e vai em direção aos brinquedos do parque.

About dragons. •Xavier Thorpe.Onde histórias criam vida. Descubra agora