Quando entrei na adolescência um dos maiores alcances pessoais seria arranjar um namorado. Quando saí da adolescência descobri que para me relacionar com alguém teria que fazer tudo exatamente o oposto de como eu realmente faria. Se gostasse muito, deveria deixar transparecer pouco, quando me importasse deveria fingir que não, e quando me sentisse incomodada não deveria levar adiante, afinal, homens não gostam de discutir a relação. Percebi aí um padrão esquisito, em que apesar de serem duas pessoas envolvidas, somente uma dita como as regras do jogo devem funcionar. Dizem então que devemos só jogar, até que aos olhos do outro você se torne interessante. Nas minhas anotações tinham coisas como "seja misteriosa, mas ainda aja com traços maternais, assim ele reconhecerá um padrão familiar em você", e isso me fez moldar uma personalidade inteira encima da remota possibilidade de fazer uma relação durar. E assim crescemos, contribuindo para desconfianças, inseguranças e comportamentos em que cada vez menos nos reconhecemos. Para a vida adulta desejo encontrar alguém que ainda não saiba como jogar como a maioria atual, para que seja possível fugir de regras que não impliquem em somente ser quem se é.
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Textos autorais
PoetryAlguns dos textos que escrevo e me sinto à vontade em compartilhar aqui :)