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Por mais que eu já tenha meio que não pensado mais tanto em Josh, digamos assim, meu coração ainda batia por ele. Eu ainda queria abraçá-lo e beijá-lo. Mas eu tentava manter a calma.

-Então diga logo o que você quer - digo o mais seco possível, mas Josh me conhece o suficiente pra saber que isso nunca funciona, principalmente porque estou olhando pro chão.

-Noah, não tenta se fazer de durão. Não combina com você.

-Eu só tô tentando te esquecer. Você deveria fazer o mesmo.

-Eu não vou fazer isso. Eu quero voltar a falar com você como antigamente.

-Eu não acho que isso vai ser possível.

-Claro que vai! Nós somos o Josh e o Noah. Os inseparáveis, lembra? - ele diz me fazendo lembrar do nosso apelido de dupla de super-heróis que tínhamos na infância, me fazendo soltar uma leve risada - Viu? Você se lembra!

-Isso já foi a muito tempo. E na época eu não era apaixonado por você. Éramos só os melhores amigos do mundo.

-Noah...

-É melhor nós dois seguirmos caminhos diferentes. Você e a Any estão bem próximos. Vocês fazem um ótimo casal.

-Nós não somos um casal.

-Mas deveriam ser. As coisas deveriam ser assim.

-Não, não deveria - ele diz, insistente.

-Por que é que você insiste tanto nisso? - pergunto em um tom mais alto do que deveria.

-Porque eu te amo! - ele diz, fazendo eu olhar nos seus olhos azuis, que já estão cheios de lágrimas - Eu te amo, Noah! E não é um amor só de amigo. É mais do que isso - e agora eu me permito chorar depois de ficar segurando por todo esse tempo.

-Josh, para de brincar assim com meus sentimentos - ele se aproxima de mim.

-Eu não estou brincando. Eu realmente te amo.

-Mas...

-Olha... - ele começa - Eu sempre senti algo especial por você, mas eu achei que era coisa de melhor amigo. Você entende isso - eu assinto - Mas quando nós estávamos no nono ano, e uma menina da nossa sala veio me dizer que que queria ficar com você e me pediu para perguntar se você tava afim, eu quase explodi de raiva. Eu não queria que ninguém namorasse você, queria você só pra mim.

Eu dou uma leve risada imaginando isso. Talvez eu até saiba quem é essa menina. Ela vivia no meu pé, e se mudou para Portugal.

-Enfim - ele continua - Na época, eu desconfiava que estava gostando de você como mais do que um amigo, mas como eu não entendia nada sobre sentimentos, e nisso eu sou bem mais lerdo que você, eu perguntei pra Any como era gostar de alguém, e ela me respondeu. Que eu queria sempre ficar com a pessoa, que eu me preocupava mais do que deveria, que eu sentia ciúmes de outras pessoas perto dela... enfim - nós estamos sentados no chão.

-Nessa época a Any já gostava de você, não é?

-Sim, sim, e foi nesse momento que ela se declarou pra mim. Ela disse "eu sei disso porque gosto de você". E eu fiquei completamente sem reação. Eu entendi na hora que ela achava que eu estava meio que me declarando pra ela.

-E deixa eu adivinhar, você inventou alguma desculpa muito esfarrapada.

-Na verdade, eu meio que travei e só disse um "valeu" e fui embora. E por incrível que pareça, ela continuou sendo a mesma comigo. Eu sei que ela ficou meio envergonhada, e eu também fiquei por não saber reagir, mas nossa amizade continuou quase igual.

-Então era por isso que vocês pararam de andar tão juntos.

-Exatamente! Mas, continuando a história, eu já sabia que gostava de você. Eu só não queria aceitar, além de ser meio confuso na época. Porque, tipo, eu já tinha beijado uma garota, e você sabe, porque eu te contei - assinto lembrando que fiquei triste na época - E eu tinha gostado. E, de repente, eu gostava de um garoto. Então, eu pesquisei sobre lgbt, sexualidade e etc, uma coisa que eu nunca tinha feito antes, e depois de algum tempo, eu me entendi e me descobri bissexual. E é estranho, porque eu nunca tinha falado isso em voz alta.

Eu fico feliz por eu ser a primeira pessoa que Josh saiu do armário. Me fez sentir mais especial.

-Eu estava com vergonha de contar pra você, de contar pra qualquer pessoa. Eu fiquei com medo de que ninguém me entendesse e falassem que eu estava confuso, ou algo do tipo, então eu escondi isso de todo mundo.

-Eu sei como você se sente. Também tive esse sentimento de que ninguém ia me entender - digo em um tom triste - Mas como você começou a namorar a Any?

-Ah, sim. Bem, eu passei as férias inteiras pensando em você - ele tinha ido para o Canadá ver a família - Eu achei que esse tempo sem nos vermos faria eu parar de gostar de você, mas não foi assim. Então, quando eu voltei pra Los Angeles, eu já estava decidido. Eu iria pedir uma menina em namoro. E essa menina era a Any.

-Eu lembro que quando você me contou que ia pedir ela em namoro, eu fiquei muito chateado, mas tentei não demonstrar isso.

-E eu nem percebi. Até quando eu contei que ela aceitou. E eu lembro até hoje de eu chegando do nada nela e dizendo: "Any, aquele dia que você se declarou pra mim, me desculpa. Eu não soube como reagir, mas eu gosto de você. Então, você quer namorar comigo?". Eu lembro que ela parecia bem confusa de início, mas ela aceitou.

-E vocês viraram o casal queridinho do colégio logo no primeiro ano.

-É. Mas eu nunca me senti bem naquele relacionamento. Eu achei que quando nós começarmos a namorar, eu iria gostar dela. Mas não foi assim. Eu só conseguia ver ela como amiga. Não tínhamos aquela ligação de casal, e eu não sentia o mesmo que eu sentia quando estava perto de você. Eu tentei até o fim das aulas, mas não deu, então eu terminei. Eu tinha pensado que não deu certo porque talvez eu fale e veja você todo dia, mas eu não queria me afastar de você, e eu também não estava me sentindo bem naquela relação.

É naquele momento que eu me sinto um péssimo amigo. Eu não tinha percebido nada daquilo. Talvez eu tenha percebido que eles não faziam aquelas coisas românticas de casal, mas achei que era porque eles gostavam de ter sua privacidade.

-E eu também me lembro como terminei com ela. "Desculpa, Any, mas eu não posso continuar mentindo pra mim mesmo". Aí ela disse: "Não é só você. Tudo que eu sinto por você, eu sinto como amiga. Como melhor amiga. Eu aceitei isso porque fiquei muito animada, e achei que o sentimental poderia voltar". E aí combinamos de ser só amigos.

-E quando você me contou isso, eu fiquei tão feliz, que quando eu cheguei em casa, eu pulei de alegria - nós rimos.

-Eu lembro que eu fiquei triste. Não pelo término, porque me senti meio que aliviado. Mas por ter mentido esse tempo todo. E não é que eu não tenha gostado de ficar com a Any. Eu gostei, e foi com ela que eu perdi a virgindade - eu faço uma cara de que ele não precisava ter me contado aquilo - Desculpa.

-Tudo bem - digo - Mas eu quero saber agora por quê você não me contou sobre a sua sexualidade quando eu me assumi.

-Bom, quando você me contou que você é gay, eu fiquei surpreso, mas também fiquei com um pouco mais de esperanças. Eu pensei em te contar naquela mesma noite, mas eu achei que ficaria parecendo que eu só estava falando aquilo pra você "se sentir melhor", então eu desisti. Eu tentei criar coragem pra te contar várias vezes, mas não deu.

-Tudo bem. Você não era obrigado a se assumir, só porque eu fiz isso - ele sorri pra mim.

-Eu fiquei com várias garotas pra tentar te esquecer, e evitava ao máximo ficar com garotos. Acho que só fiquei umas duas vezes. Mas eu sempre pensei em você.

Escutar tudo aquilo me deixou com uma alegria enorme. Não só porque era a primeira vez que ele se abria assim comigo, mas também porque ele correspondia aos meus sentimentos.

-Quando eu beijei você lá em casa - ele continua - Eu me senti o garoto mais idiota do planeta. Eu me senti muito culpado e, quando você saiu correndo, eu fui logo atrás de você, mesmo Sina dizendo para eu ficar.

E eu achando que esse negócio de correr atrás da pessoa que você ama só acontecia em filme.

NOSH - Meu Melhor Amigo Onde histórias criam vida. Descubra agora