XV

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   NIARA PITANGUI 

  Isobel me leva para fora da casa e me guia pela alcatéia. Depois de me arrumar, ela tomou banho e se arrumou também. Todos na alcatéia estavam vestidos com roupas azuis, Isobel disse que a Luna e o alfa usavam branco e a alcatéia azul, achei encantador.

  As luminárias no chão faziam um lindo caminho até um palco improvisado de madeira. No chão em frente ao palco, almofadas e puffs estavam espalhados. Haviam algumas mesas grandes com comidas, doces e isopores com bebidas.

  Arthur está em frente ao palco e assim que me vê, sorri, me olhando de baixo a cima. Sorrio de volta e vou até ele.

  — Está ainda mais bela, meu amor. - Me abraça e dá um beijo na minha testa.

  — Você também, querido. - Ele usava uma calça meio solta branca, estava descalço e tinha desenhos pelo corpo também. — O que devo fazer?

  — Teremos que fazer um ritual com você... - Olha nos meus olhos, vendo minha reação, mas apenas fico quieta esperando que termine. — Não será doloroso, somente quando eu te marcar.

  — Como assim me marcar? - Ele sorri e me puxa em direção ao palco.

  — Os alfas das alcatéias marcam suas lunas, quando vão acasalar. É uma mordida entre o ombro e pescoço, que nos faz ter uma marca e cheiro do nosso companheiro. - Nos posiciona no meio do palco, nem percebi que o pessoal já estava lá. — Isso fortalece nosso vínculo e sentimentos. Já os supremos, marcam suas lunas no ritual de apresentação da luna a alcatéia.

  — Oh, bem... Entendi, vamos lá. - Suspiro, olhando ao redor. — Onde está Unna?

  — Está ali com as outras crianças, elas não vêem a cerimônia, deixamos elas brincando. - Aponta para uma parte que está adaptada com brinquedos de criança.

  Ele vai até o microfone e começa a falar sobre a alcatéia, os supremos e lunas que já governaram ali... Mesmo que a maioria já saiba como é, a tradição tem que ser feita. Depois de uns minutos, ele me chama para falar algo, faz parte da tradição.

  — Boa noite, pessoal! Não sei bem o que falar, a não ser a verdade. Estar entre vocês é novo para mim, desde pequena ouvia histórias sobre os seres místicos que existiam, os mundos mágicos... - Olho para todos, que me observam com atenção. — Desde nova sofria com ataques a minha pessoa e minha família, e fui descobrindo como realmente as coisas eram, como eram diferentes das histórias contadas. Darei o meu melhor para ser uma boa luna para essa alcatéia, para vocês e principalmente, para o supremo. Pois ele tem que estar bem e forte, para liderar seu povo e combater os males.

  Abaixo levemente meu corpo, em sinal de respeito à eles e eles se ajoelham no chão. Olho surpresa para Arthur, não achei que me aceitariam tão rápido, apesar de ninguém aqui ter me trata mal, quando passavam por mim. Ele se aproxima de mim e sorri.

  — Eles gostaram de você. - Passa a mão no meu rosto de leve. — Pronta para ser marcada?

  Concordo e ele olha para a lua, ela pisca entre azul e vermelho e volta ao branco. Ele se ajoelha e me puxa com ele, me vira de costa para ele e segura minha maxilar com uma mão. Com a outra afasta meu cabelo e depois me abraça pela cintura. Respiro fundo e sinto sua respiração no meu pescoço, logo em seguida a dor da mordida.

  Prendo a respiração e aperto suas coxas, a dor de assemelha a uma dor de um osso quebrado, mas é suportável. Ele para de me morder e lambe o local, me arrepio. Quando ele solta minha maxilar, minha visão fica turva e meu corpo tomba para a frente, ele me segura.

  — Não consigo ver direito... - Minha voz sai como sussurro. Então tudo fica no maior silêncio e escuridão.

  — Olá, querida! - Lua aparece para mim. — Seu último poder será liberado agora, assim como do Arthur. Morda ele também, no mesmo local em que ele te mordeu.

  — Qual será? Como assim, eu nem tenho presas... Lua? - A chamo, mas fico sem resposta. Então tudo clareia e vejo a alcatéia de novo. 

  — Meu amor? - Olho para ele, que me segurava em seu colo. Seus olhos arregalam ao me olhar. — Se sente bem? Não era para isso ter acontecido, nunca aconteceu.

  Sem dizer nada, seguro sua nuca trazendo seu pescoço para baixo e o mordo. Ele geme baixinho, mas não se mexe. Para de morder e lambo o local, assim como ele fez. Então olho para seu rosto e ele fica totalmente preto, imagino que o meu também esteja assim e por isso ele me olhou meio assustado.

  Seu corpo começa a mudar de forma, até ele se tornar um lobisomem, grande, branco e com olhos totalmente preto. Lindo. Ele vem até mim e me pega no colo, indo em direção a floresta. Todos nos olham surpresos, como ele disse:

  "Isso nunca aconteceu." 

  Mas para tudo há uma primeira vez, não é mesmo?!

  Ele me põe na grama e se ajoelha, fico confusa com seus últimos atos, mas então meu corpo começa a queimar e meus ossos doerem.

  Parece que estou sendo queimada viva. Por um momento, perco meus sentidos tamanha a dor. Então tudo fica calmo, abro meus olhos e enxergo bem melhor, mais colorido e me sinto mais alta.

  Arthur se levanta e me abraça, passo meus braços ao redor do seu pescoço e percebo que estão peludos e de cor cinza clarinho. Me afasto dele rapidamente.

  — O que aconteceu? - Ponho as mão na boca, na verdade, patas. Minha voz está um pouco diferente.

  Me olho e vejo que estou parecida com Arthur, porém com a cor dos pelos diferentes. Olha para ele que sorri para mim, ok, é assustador.

  — Você está linda, fica linda de todas as formas. - A voz saí mais grossa. — Mas precisa me dizer o que houve.

  — Comecei a me sentir mal, então tudo ficou escuro e a tia Lua veio falar comigo. Disse que meu último poder e o seu seria liberto, então falou que eu devia morder você e sumiu. Eu voltei a enxergar e te mordi, então isso aconteceu.

  — Então agora além de me transformar em lobo, posso me transformar em lobisomem... Isso é ótimo! E ter você como lobisomem também é maravilhoso.

  — Sim, é sim! - Sorrio, o beijando. — Devemos voltar.

  Voltamos para a alcatéia e todos estão no mesmo lugar, sentados nos puffs. Dessa vez, não subimos no palco, ficamos em frente a ele.

  — Agradeço a todos por terem vindo, e por terem esperado. - Fala ainda em sua forma de lobisomem, eles olham para a gente admirados. — Agora posso me transformar em lobisomem e assim, ajudar a proteger a alcatéia melhor. Graças a essa coisa linda que tenho como companheira.

  Todos aplaudem, nos parabenizam pelo "acasalamento" e vão se divertir e comer. Unna vem até nós e dá um gritinho.

  — Vocês estão parecendo pelúcias grandes. - Abraça nossas pernas.

Quando Achei ElasOnde histórias criam vida. Descubra agora