𝐒𝐈𝐍𝐀 𝐃𝐄𝐈𝐍𝐄𝐑𝐓
New YorkNão é possível que uma pessoa seja tão
rabugenta assim! No começo eu até poderia entender, e com o meu trabalho é normal, principalmente nas primeiras seções, os pacientes se queixarem de estarem desse jeito, sem vontade de fazer os exercícios e se irritarem por não conseguirem fazer tarefas que antes eram extremamente simples. Eu já estava acostumada com isso e continuava fazendo meu trabalho com um sorriso no rosto e falando palavras de isentivo para
eles, mas Noah é diferente de todos os
outros pacientes que já tive.Quando soube que ele seria o meu
paciente, foi um amigo meu que havia
me indicado e antes mesmo dele chegar
já sabia da fama que ele tinha, mas não
levei muito a sério e continuei meu
trabalho tendo a certeza que com o tempo, Noah melhoria seu mau humor. Já se passaram três meses e ele continua frio como um gelo. O acidente dele não é nem recente para ele poder vir a ter uma crise existencial e achar que a vida não é justa, culpando tudo e a todos. O acidente dele foi há três anos, o que me leva a crer que ele é uma pessoa amargurada por natureza.O que explica ele não ficar em um
fisioterapeuta mais do que um mês,
ninguém o aguenta, apesar de ninguém
admitir isso em voz alta. Respiro fundo e continuo meu trabalho.Não sei se era impressão minha, mas hoje ele parecia estar ainda mais emburrado que o normal.
- Você poderia desligar a música? - ele pergunta entediado. Olho para a caixinha de som que tocava as músicas de natal da Simone.
- Claro - respondo ignorando o fato dele não ter pedido por favor
- Você prefere alguma específica?-
pergunta pegando meu celular que estava conectado com o som.- Não, só tira a música de Natal.
- Você não gosta do Natal? - questiono tirando a música e voltando para onde ele estava deitado na cama.
- Odeio.
- Caramba, é a minha época do ano
favorita - digo sorrindo.- Percebe-se - ele responde sério olhando a sua volta para toda a decoração de natal que eu tinha feito em minha sala. Fiz questão até de comprar uma árvore de natal e guirlandas.
- Mas por que você não gosta?
- Porque não - ele afirma e dá a
conversa por encerrada. Faço mais alguns exercícios em sua perna, a movendo para cima e para baixo, esticando e dobrando para o músculo não atrofiar.- Trauma de infância ao descobrir que o Papai Noel não existe?
- Acho que já acabamos, não? - ele diz levantando estressado.
- Desculpa se falei algo que não devia,
não era minha intenção - digo sincera ao o vê por a mão em sua perna e a levando para a beirada da cama.- Eu só estava brincando.
- Pois na próxima vez mantenha seu
comentário em sua mente. - Franzo
o cenho e abro a boca para responder,
mas mordo meu lábio. Não vale a pena.
Percebo ele fazer força em seu braço
tentando se aproximar da cadeira de
rodas. Estico meus braços segurando seu corpo e o ajudo a se posicionar na cadeira. Já fiz isso tantas vezes que já virou praticamente um hábito.- Eu o levo até a saída - falo me
preparando para empurrar sua cadeira,
mas ele põe as mãos na roda indo até a
porta sozinho.- Não precisa, posso fazer isso sem sua
ajuda. Não é esse o intuito da fisioterapia? De eu conseguir voltar a vida normal e ser mais independente?- Não é só isso - começo a explicar, mas quando percebi já estava falando sozinha. Ótimo.
Saio da sala e o vejo a tempo de vê a porta do elevador fechando. Dou um suspiro tentando não ficar com raiva da situação. Ele precisava ser tão grosso?
- O simpático foi embora mais cedo?
Escuto uma voz conhecida dizer. Olho para o lado e encontro Any, minha amiga de trabalho. Ela foi a primeira amiga que fiz quando comecei a trabalhar aqui há 7 anos. Ela também era novata na época e como eu, também tinha acabado de se formar na faculdade. Seu largo sorriso e abraço de boas vindas me fizeram me sentir à vontade e desde então, não nos separamos mais.
- Acredita que ele não gosta do Natal?
- conto soltando meus cabelos loiros e
fazendo uma trança de lado.- Oh, não me diga - ela leva as mãos
negras aos lábios fingindo surpresa. - Eu me surpreenderia se ele gostasse do
Natal.- Cruzes Gabrielly, você falando assim
parece que ele é uma pessoa horrível.- E não é? Quantos foras ele te deu hoje?
- Eu não fico contando - respondo e
ela ergue a sobrancelha desconfiada
esperando uma resposta. Reviro os olhos e cruzo os braços - sete - murmuro.- Você não precisa continuar tratando
dele, sabe muito bem disso. Não sei porque. você insiste tanto em ajudar alguém que claramente não quer ser ajudado. Tenho a solução perfeita, você diz que vai ter que fazer umas pesquisas ou que está com novos projetos e não vai poder mais ser a fisioterapeuta dele, indique outro ótimo profissional para ele e pronto. O encosto vai embora - ela gesticula com a mão como se quisesse espantar um bicho.- Igual todos os outros fisioterapeutas
fizeram. Eu não vou fazer isso.- Por que não? Eu faria sem pensar duas vezes.
- Você acha que ele não percebe?
Ele pode parecer turrão, mas com
certeza deve sentir essas mudanças de
fisioterapeutas. Se ele realmente não
se importasse, ele nem estaria vindo.
Não vou mandar ele para outro, eu vou
ajudá-lo da melhor maneira que eu posso.Com esses meses que passei com ele, para mim ficou claro que ele não tinha nenhum problema em ser cadeirante, ele nunca se queixou disso, de se sentir incapaz de fazer algo. O que só deixa claro que ele precisa se curar emocionalmente, e eu só vou poder ajudá-lo melhor com isso se eu o conhecer melhor. Mas como vou fazer isso?
Na sala de recepção reconheço a
música de fundo ser uma de natal e
instantaneamente dou um sorriso quando a ideia surgi em minha mente.- Oh não, quando você faz essa cara -
Any comenta ajeitando o coque em
seu cabelo cacheado. - O que você está pensando?- Ele odeia o Natal. Tenho até dia 25 de Dezembro para fazê-lo gostar. - afirmo orgulhosa da minha ideia.
- E como você exatamente pretende fazer isso?
- Vou mostrar pra ele porque eu gosto
tanto dessa data. Quem sabe assim eu não o conheça melhor e consiga o ajudar de verdade.- Uma missão de Natal?
- Exato - ela ri e põe a mão em meu
ombro. - Boa sorte e muita paciência Sina, acho que vai precisar, principalmente com um ogro feito o Noah.Reviro os olhos e pego meu celular abrindo o calendário. Tenho 17 dias para fazê-lo gostar do Natal. Vou conseguir, penso confiante imaginando todas as coisas que poderíamos fazer. Agora o primeiro passo é o mais difícil. Convencê-lo a aceitar.
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ɪɴ sᴇᴀʀᴄʜ ᴏғ ᴄʜʀɪsᴛᴍᴀs | ɴᴏᴀʀᴛ ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴛɪᴏɴ
FanfictionSina Deinert é uma fisioterapeuta apaixonada por sua profissão que tem como o maior objetivo aliviar a dor e ajudar ao próximo, porém quando Noah se torna seu mais novo paciente, seu mau humor constante e antipatia a faz se questionar se é mesmo uma...